quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Mudam-se os tempo, mudam-se as vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.


Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.


O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.


E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.


Luís de Camões


domingo, 19 de maio de 2013

I Torneio UFRGS de Xadrez - Campeão!

28 participantes fizeram um dos torneios mais bonitos que já joguei. O clima foi de bastante competitividade mas também de confraternização entre os estudantes de 21 cursos da UFRGS, são eles: Letras, História, Direito, Relações Internacionais, Ciências Sociais, Ciências Enconômicas, Ciências Contábeis, Ciências Atuariais, Geologia, Matemática, Química, Química Industrial, Engenharia Química, Engenharia Civil, Engenharia de Produção, Engênharia Mecânica, Engenharia Elétrica, Engenharia de Controle e Automação, Educação Física, Odontologia e Medicina. Portanto, não foi apenas mais um torneio de xadrez, mas também um momento de troca de ideias entre representantes de diversas áreas do conhecimento. 

Casa de estudante UFRGS - Maio de 2013

O torneio também foi disputado com o intuíto de apontar 4 enxadristas do naipe masculino e 4 do naipe feminino da UFRGS para compor a equipe que disputará os Jogos Universitários Gaúchos em junho na cidade de Canoas. Os classificados foram: 

Masculino
1. Eider Tiago da Cruz - Letras
2. Neimar Sausen - Letras
3. Matheus Azevedo -  Ciências Atuariais
4. Rodrigo Tadewald - Engenharia Química
Suplentes
5. Eleandro Feijó - Engenharia Civil
6. Vinicius Fernandes - Medicina
7. Matheus Stapenhorst - Matemática

Feminino
1. Mariél Goulart - Odontologia
2. Daniela Santos - Medicina
3. Samantha Mendes Semeunka - Odontologia (não pode jogar o torneio, mas confirmou participação)


Mariél recebendo o troféu de campeã

Mariél, campeã feminino com 3 pontos dos 5 possíveis, foi uma das representantes gaúchas ano passado nos Jogos Universitários Brasileiros realizados na cidade paranaense de Foz do Iguaçu. Jogando contra as melhores enxadristas universitárias brasileiras, ela fez excelentes partidas.. Uma delas foi essa:


Como muito bem disseram lá no torneio: Mariél é a Judit Polgar do Xadrez da UFRGS!

Eu recebendo troféu das mãos de minha mãe Inês.

Eu acabei saindo campeão no masculino ao vencer as 5 partidas das 5 possíveis. As partidas foram bastante duras, principalmente as contra Eleandro Feijó e Matheus Stapenhorst. Contra o Feijó fiquei boa parte da partida sem saber o que estava fazendo e contra o Matheus fiquei esperando quando ele iria decidir usar seu ponto forte que é o ataque. Disponibilizo abaixo essas duas partidas e mais a contra o Matheus Azevedo para quem tiver interesse em reproduzi-las.

2ª rodada - Matheus Azevedo x Eider Cruz


3ª rodada - Eider Cruz x Eleandro Feijó



4ª rodada - Matheus Stapenhorst x Eider Cruz



Matheus Stapenhorst, contra quem joguei na segunda rodada, é outro jogador que tem um potencial de evolução muito grande. Está estudando bastante e desenvolvendo uma capacidade de construir ataques invejável. Na nossa partida, embora tenha sido uma partida duríssima, ele não conseguiu mostrar para o que venho, mas nessa partida contra seu xará Matheus Azevedo, ele construiu um belíssimo ataque siciliano. No entanto, não conseguiu arrematar e acabou sucumbindo diante uma defesa ardilosa de seu oponente. Stapenhorst nos mandou  a partida analisada e logo abaixo é possível reproduzi-la. 

Matheus Azevedo vs Matheus Stapenhorst
I Torneio UFRGS de Xadrez


 Mesmo tendo perdido esta partida, fiquei muito feliz pelo jogo que joguei. Nem eu nem o meu oponente fizemos os melhores lances da posição em determinados momentos, mas xadrez é um jogo muito difícil, e esse é um dos motivos pelo qual ele encanta tanta gente.

1.e4 c5 2.Cf3 d6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 Cf6 5.Cc3 a6 6.Be3 O ataque inglês, uma das minhas linhas avoritas, tanto de brancas quanto de negras.

6...e5 7.Cb3 Be6 8.f3 Be7 9.Dd2 Dc7 10.g4 Cbd7 11.g5 Ch5 12.0-0-0 b5 Bem, a ideia das negras é a de eventualmente jogar Cb6-c4-bxc4 e atacar pela coluna b. As brancas, por outro lado, devem atacar na ala do rei, e eventualmente romper com f4. Note que o cavalo de h5 é defensivamente importante para as negras, pois tanto impede h4-h5 como também, se as brancas desejarem romper em f4, deverão trocar seu melhor bispo pelo cavalo negro. Note o buraco em d5. O bispo negro de casas brancas deve sempre apontar para ela, e, não fosse pelo bispo negro de e7, as negras entrariam em colapso.
13. Rb1 0-0 14.Be2 Cb6 15.Thf1?! Lance estranho. A torre não fica muito ativa na coluna f. Prefiro deixar a torre na coluna h e avançar h4-f4-h5( depois de o cavalo negro ter tomado o bispo em f4)


15...Cc4 16.Bxc4 bxc4 17.Cc1 Tfb8?! Joguei esse lance pensando em manter a outra torre na coluna a e avançar a5-a4 o mais rápido possível. 18.Cd5! Bxd5 19.Dxd5 Agora, 20.f4 é uma ameaça um tanto quanto séria, e as negras precisam se precaver.


19...Dc8 Eu gosto desse movimento! Agora as negras se preparam para jogar Tb5 com ganho de tempo. 
20.Ce2 Observe a manobra Cc1-e2-c3-d5. 20...Tb5 21.Dd2 Tab8 22.b3 cxb3 As negras tinham 22...d5!! e se 23.exd5? cxb3 24.axb3 Txb3+!! 25.cxb3 Txb3+ 26.Ra1 Ta3+ 27.Rb1 Db7+ 28.Db2 Tb3, e a máquina dá dois pontos de vantagem ao negro, mas não me sinto muito bem com uma dama por duas torres. Ainda há muito jogo pela frente. A resposta correta para 22...d5 é 23.Cc3! d4! 24.Cxb5 dxe3 25.Dxe3 Txb5,e as negras são superiores.

23.axb3 d5!! Quando se quer atacar, se deve trazer todas as peças para pressionar o adversário. Este movimento ativa o bispo, que passa a pressionar o negro. 24.exd5 A máquina condena esse movimento devido à combinação mencionada anteriormente.

24...Bb4!? O bispo entra em jogo com ganho de tempo, e se torna muito ativo. Note que Cc3 já não é possível. A única esperança do branco consiste no seu peão passado. 25.Dd3 a5 26.d6 a4 Melhor era o simples 26...Dd7, bloqueando o peão( as brancas ganham no fim por causa da coroação)

27.d7 Dd8 28.Cc1 axb3 29.cxb3 Bh3 E b3 cai. 30.f4? Isso perde. Melhor era 30.Dc3, respondendo à 30...Bxc1 31.Rxc1 Txb3 Dxe5. 30...Bxc1 31.Rxc1 Txb3 32.Dc4 f7 é o alvo das brancas. 32...e4? O correto era 32... Txe3 33.fxe5 Rh8 34.Txf7( A dama deve ficar em c4, evitando mate pela coluna c) Txe5, com vantagem negra.

33.Ba7 Tb1+? Isso não evita a coroação. Era necessário 33...T8b7 34.Bc5 Td3 35.Dxe4 Tbxd7. 34.Rc2 T8b2+ 35.Rc3 Da5+ 36.Rd4 Dxa7+  Isso perde, mas as negras estão perdidas. Se 36...Txd1+ 37.Txd1 Dxa7+ 38.Rxe4 Da8+ 39.Re3 Tb8 40.Da6!!, e as negras ficam perdidas. E as brancas acharam um refúgio para o rei alguns movimentos depois. 1-0



Esse é um grande passo rumo a um xadrez universitário forte na UFRGS. Talvez essa iniciativa possa inspirar outras universidades a realizar seus próprios torneios e quem sabe em um futuro próximo possamos realizar circuitos de torneios entre as variadas universidades gaúchas. Agradeço muito à minha namorada Kétina pela ajuda na divulgação e pelas excelentes fotos, ao árbitro André Baldini pela brilhante condução do torneio, à Divisão de Esportes da UFRGS pelo pleno apoio à nossa inciativa e também à minha mãe pelo cafezinho e as bolachinhas amantegadas que estavam maravilhosos!

Resultados Completos: Clique Aqui

sábado, 18 de maio de 2013

Torneio de 70 anos da AABB Porto Alegre

Foi realizado no dia 11 de maio o torneio de aniversáio da AABB, organizado pelo MF Luiz Nei Menna Barreto. 77 enxadristas participaram e o MI Sérvio Dragan Stamenkovich se saiu campeão conquistando 6,5 dos 7 possíveis seguido de Eduardo Munoa e Miguel Ângelo Quadros com 6 pontos

Foto com os 10 primeiros colocados e premiados do torneio.

Chamou a atenção também a participação do enxadrista Allan Gattass, campeão estadual 2007, que depois de um tempo jogando e residindo em São Paulo, está de volta aos tabuleiros gaúchos. 

Minha participação no torneio foi razoável. Apesar de algumas partidas bem mau jogadas, fiquei a uma passo de aparecer na foto com os premiados do torneio. A minha 11ª colocação foi bastante celebrada. Claro que ao iniciar um torneio sempre esperamos mais, mas devido às circunstância posso dizer com certeza que saí no lucro. 

O que me incomodo um pouco é a ausência do meu rating FIDE de xadrez rápido que me coloca em posições sempre muito abaixo na tabela de entrada dos torneios. Já é o terceiro evento consecutivo que enfrento o Munoa na segunda rodada, fato que normalmente só ocorreria nas últimas rodadas. 

Eu espero sempre ansioso para poder bater de frente com o Munoa em cada torneio que jogamos. Dessa vez, depois de alguns meses esperando após o torneio do Mercado, acabei invertendo a sequência já no décimo lance de uma linha teórica que eu estava preparado para jogar. Uma lástima. Mas também depois do meu erro, o Munoa foi implacável.




Éverton Togni é um jogador que vem evoluindo muito nos últimos tempos. É sempre uma dureza enfrentar ele e dessa vez não foi diferente. Sorte que meu par de bispos pode ser bem trabalho no final e, mesmo com a pressão no tempo, foi suficiente para que eu criasse problemas e vencesse a partida. 


Mais informações:




quarta-feira, 3 de abril de 2013

Circuito UNIALCANCE & FGX de Xadrez Rápido 2013


06.Abr :: Circuito UNIALCANCE & FGX de Xadrez Rápido 2013 
Etapa Cidade de Dois Irmãos    

Data: 06 de abril de 2013
Objetivo: Indicar 03 classificados por etapa para a Final do Circuito
Local: Sede Social Clube Sete de Setembro de Dois irmãos - Endereço: Rua Canoas, 377 Fone: 3564 4141

PREMIAÇÃO:
GERAL:  
1º lugar - R$ 200,00  +  Troféu
2º lugar - R$ 100,00  +  Medalha
3º lugar - R$  50,00  +  Medalha

FEMININO: 
1º lugar - R$  50,00  +  Troféu
2º lugar - R$  25,00  +  Medalha
 
MELHOR DENTRE AS CATEGORIAS SUB: 
1º Melhor colocado – R$ 50,00
2º Melhor colocado – R$ 25,00
OBS: premiação não cumulativa

Categorias: Sub 08, Sub 10, Sub 12, Sub 14, Sub 16, Sub 18, Sub 20 e Absoluto
 
Sistema da Competição: Suíço em cinco rodadas pelo programa Swiss Manager
Critérios de Desempate: a) Milésimos medianos; b) Milésimos totais; c) Berger; d) Progressivo; e) Nº de Vitórias;
Tempo de reflexão: 30min KO.
Arbitragem: FGX

Inscrições: Antecipadas pelo email dornelles-leonel7@bol.com.br até às 20h do dia 05/04/13 (Sexta-feira), informando nome completo, ano de nascimento, cidade e ID FIDE e CBX se houver.
Taxa de inscrição menores até Sub 12: R$ 5,00
Taxa de inscrição antecipada: R$ 15,00 
Taxa de inscrição no dia local do evento: R$ 30,00
 
Banco Banrisul
Agência Dois Irmãos = 0197
Conta Corrente = 06.046283.0-5
Correntista = Federação Gaúcha de Xadrez           
 
Programação:
SÁBADO – 06/04/2013
09h00 : Recepção aos jogadores
09h45 : Congresso Técnico
10h00 : 1ª rodada
11h20 : 2ª rodada
12h30 : Intervalo de Almoço
14h00 : 3ª rodada
15h10 : 4ª rodada
16h20 : 5ª rodada
18h00 : Entrega da premiação e solenidade de encerramento.
 
Material: Os participantes devem levar relógio de xadrez oficial, que deverá ser apresentado pelo condutor das peças pretas, jogo de peça oficial, que deverá ser apresentado pelo condutor das peças brancas.
 
Organização e Realização: Federação Gaúcha de Xadrez

sexta-feira, 29 de março de 2013

XII Torneio Internacional Cidade de Porto Alegre - 3º Lugar

Mercado público de Porto Alegre, março de 2013

Gostaria de destacar primeiramente neste post a organização espetacular do torneio. O maior aberto do xadrez porto-alegrense contou com a participação de 140 jogadores e foi muito bem gerenciado e conduzido pela equipe do Metrópole Xadrez Clube. Fato raro num torneio desse porte: a programação divulgada no folder foi levada à risca. Deu gosto de ter jogado e tenho certeza que os enxadristas que viajaram longa distância para comparecer fizeram a viagem de volta muito satisfeitos e voltarão com prazer nas próximas edições.

Equipe do metrópole com o GM Krikor Mekhitarian
Da esquerda pra direita: Ian, Felipe, Krikor e Orguim.

A presença do GM Krikor, como na XI edição, abrilhantou o torneio novamente. O GM campeão brasileiro venceu as 7 partidas que jogou, sagrando-se campeão isolado e invicto da competição. Aproveitei também para tietar um pouco, afinal de contas, ninguém é de ferro.

1º e 3º lugares no torneio.

Para a nossa alegria, Krikor, utilizando a plataforma do ChessBase, publicou no facebook suas partidas mais importantes jogadas durante o torneio. 


Luiz Nei Menna Barreto x Krikor




Minha participação do torneio foi muito melhor do que o esperado. Estou afastado do xadrez por conta do último semestre da faculdade e tenho apenas mantido contato com o tabuleiro através das aulas que ministro. No entanto, pude fazer partidas bastante interessantes contra fortes oponentes. Perdi apenas uma partida para o campeão gaúcho Eduardo Munoa, porém infelizmente não consegui lembrar dela depois do lance 21. Mas deixo para o apreço de todos outras 4 partidas na íntregra.

Leandro Castro x Eider Cruz - 1ª Rodada



Eduardo Munoa x Eider Cruz - 2ª Rodada



Rodrigo Borges x Eider Cruz - 5ª Rodada



Paulo Rabuske x Eider Cruz - 7ª Rodada






Mais destaques do torneio

Fenômeno Guilherme Genro 2º lugar no torneio 
Vitórias contra o MF Luiz Nei e Eduardo Munoa

Catarinenses da equipe de Chapecó
Honrando a tradição de sempre comparecerem fortes no torneio do mercado.

Equipe de xadrez da Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima
Sempre trazendo alegria e vontade de vencer para os torneios.

Muitas vezes para mim, um torneio de xadrez é apenas uma mera desculpa para encontrar e conversar com alguns amigos. Por isso deixo aqui um abraço especial para todos que participaram e que fizeram desse sábado um excelente dia de confraternização em torno do xadrez. 

P.S

Na semana anterior a do torneio, fui ao cinema com minha namorada para assistir o mais novo filme do Tarantido Django Livre. O filme me passou uma impressão muito forte de uma revanche histórica que somente a arte pode nos fornecer. Mas sinto que talvez eu tenha ficado ainda mais impressionado com a música que apresento logo abaixo e que faz parte da trilha sonora do filme. Afinal de contas, nós enxadristas sabemos: it don’t come easy, mas que there’s gotta be a win in our bonesLETRA

I know all too well it don’t come easy
The chains of the world they seem to move in tight
I try to walk around if I'm stumbling so familial
Try to get up but the doubt is so strong
There’s gotta be a win in my bones




terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O martírio da inglesa

Dr. Ronald Câmara

            Em Riga, uma inglesa foi impiedosamente trucidada, depois de sofrer as maiores vicissitudes. O palco dessa tragédia foi o teatro Raino Daib, por ocasião da 2ª rodada do torneio interzonal ora em curso na Capital da Letônia, tendo como implacável algoz o ex-campeão do mundo Miguel Tal e vítima inerme o conhecido grande-mestre Lev Polugaievsky.
          De natureza eclética e plena de possibilidades estratégicas a inglesa situa-se entre as mais sólidas e populares linhas de jogo. Por que então esse surpreendente revés? Quais os motivos desse resultado?
           Foi ocasionado pela disparidade de forças entre os contendores ou deveu-se ao aparecimento de um fato novo, capaz de mudar o panorama da luta?
         O desenrolar desse empolgante duelo mostra que essa última circunstância foi preponderante, surgindo em cena uma variante contra a inglesa de grande valor teórico e fadada a alcançar enorme repercussão.
         Além disso, Miguel Tal reviveu todo o esplendor dos seus melhores dias, atuando com rara inspiração e extraordinária habilidade, numa expressiva demonstração de seu exuberante talento e capacidade combinatória.
            Eis como aconteceu “o martírio da inglesa”:

Torneio interzonal A
Riga, 6 de setembro de 1979.
Abertura Inglesa (R-44/b)
Brancas – Lev Polugaievsky
Pretas – Miguel Tal

 1.c4 c5 2. Cf3 Cf6 3. Cc3 d4 4.cxd Cxd5 5.e4 O lance do texto conduz a posições agudas e ricas de possibilidades táticas. A alternativa 5.d4 desfruta da predileção dos jogadores posicionais e um dos exemplos mais recentes é a partida Portisch x Hubner, Montreal, 1979, apreciada em “Xeque-Mate” de 27.05.79)

5. ... Cb4 A continuação mais incisiva a troca 5. ... Cxc3 6.dxc3! Dxd1+ 7. Rxd1, garante às brancas promissoras perspectivas como atesta a partida Benko x Seirawan, Lene Pine, 1978) 6. Bc4 As preferências se dividem entre esta jogada e 6. Bb5+. Ambas são sobejamente conhecidas de Miguel Tal como evidenciam as suas partidas com Poutiainen e Tukmakov, em 1977.

6. ... Be6 7. Bxe6 Cd3+ 8. Rf1 fxe6 9. Cg5 Posição crítica dessa variante. Neste momento já foram tentadas as continuações 9. ... Cc6 e 9. ... Dd7. Ultimamente, essas alternativas sofreram sério reveses. 9. ... Db6! Como costuma acontecer com toda ideia nova: depois de descoberta parece simples e lógica. A defesa do peão de “e6” é feita simultaneamente com o ataque ao ponto vulnerável “f2”. É incrível que uma alternativa tão racional não tenha sido cogitada por abalizados pesquisadores como Michael Stean, D. Moiseev e G. Ravinsky que publicaram extensas análises sobre essa variante!

10. De2 Contra Dd2, a melhor resposta é 10. Df3! Como indicam diversos exemplos da prática magistral. Qual o motivo que levou Polugaievsky a rejeitar essa continuação que é bem mais ativa? É provável que, neste caso, Tal houvesse continuado da mesma maneira com 10. ... c4 e após 11. Df7+ Rd7!, seguindo eventualmente de h6 e Cc6, com promissora iniciativa. 10. ... c4 11.b3 h6 12. Cf3 É evidente que 12.bxc Cf4, as pretas ganhariam uma peça. A opção atraente, porém, era 12. Dh5+ Rd7 13. Ch3, conservando as chances na balança.

12. ... Cc6 13.bxc 0-0-0! A batalha inicial foi ganha pelas pretas: além da superioridade em desenvolvimento, a posição comporta grandes possibilidades de ataque que serão magistralmente aproveitadas por Miguel Tal. 14.g3 Se polugaievsky soubesse o que lhe reservava o futuro, teria preferido afastar o incomodo corcel de “d3”, mediante 14. Cd5!? exd5 15. Dxd3, aliviando a pressão em torno de seu rei.

14. ... g5 15. Rg2 Bg7 16. Tb1 Dc5 17. Cb5 g4 18. Ch4 Thf8 A supremacia das pretas é patente e a partir deste instante a ofensiva é conduzida de forma precisa e elegante com todos os “condimentos” que caracterizam o estilo de Tal: impetuosidade, intuição e senso tático. 19. Tf1 Dxc4 É sempre agradável poder efetuar uma captura que cria uma ameaça mortal: 20 ... Cf4+ ganhando a dama.

20. De3 Seria funesto 20. Dxg4, por causa de 20. ... Cxf2 21. Txf2 Txf2+ 22. Rxf2 Tf8+ 23. Cf3 (se 23. Cf5 Txf5+ era decisivo) 23. ... Ce5 24. Dxg7 Txf3+ seguido de mate. 20. ...Cxf2! Um engenhoso sacrifício que traz a marca inconfundível do “genial combinador de Riga”. 21. Cg6 A aceitação do cavalo teria sido fatal: 21. Txf2 Txf2+ 22. Rxf2 (22. Dxf2 Dx34 era conclusivo) 22. ... Tf8+ 23. Cf5 exf5, com fácil triunfo. Por outro lado, era também desastroso 21. Cxa7+ Cxa7 22. Dxa7 Dxe4+ 23. Rg1 Dh1++. 21. ... Td3 22. Ca3 Da4 23. De1 T(d3)f3 24. Cxf8 Cd3 25. Dd1 Após 25. De2, surgiria 25. ... Cd4! 26. Dd1 Dxd1 27. Txd1 Tf2+ 27. Rh1 Cf3 com mate inevitável. 

25. ... Dxe4 Era também conclusivo 25. ... Dxd1 26. Txd1 Tf2+ 27. Rh1 Cd4 28. Bb2 Cf3! 29. Tbc1+ Rd8 30. Cxe6+ Rd7 31. Cf8+ Re8, seguido de mate. 26. Txf3 gxf3+ 27. Rf1 A situação das brancas já é sem esperanças: se 27. Rh3? Cf2 mate, enquanto que 27. Rh1? F2+, seguido de mate. Por outro lado, 27. Dxf3, permitia 27. ... Ce1+, ganhando a dama. 27. ... Df5! 28. Rg1 Bd4+ As brancas abandonaram. Após 29. Rf1 Dh3 mate, ao passo que 29. Rh1 Cf2+ era fulminante. Uma esplêndida partida de Miguel Tal.


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Aberto Tenda da UNISC em Capão da Canoa - boa partida contra o MF Flávio Olivência

Sempre é bom quando tem um torneio na praia nas férias. Unir uma semana de descanso a um encontro enxadrístico com os amigos é um prazer enorme. O torneio aberto da tenda da UNISC em Capão da Canoa que ocorreu no dia 26 de janeiro foi vencido pelo MI Sérvio Dragan Stamekovic, seguido de perto por Ivan Boere. 

A partida contra o MF Flavio Olivência foi jogada pela segunda rodada no torneio. Depois dela meu rendimento caiu consideravelmente, pois de certa forma reagi como se minha missão no torneio já estivesse sido cumprida. Esse é o mal de não ter rating FIDE de xadrez rápido e pegar os melhores da competição já nas primeiras rodadas. Na terceira, contra Eduardo Munoa, apesar de eu ter saído com uma posição melhor da abertura, Munoa soube segurar a posição. Tudo estava se encaminhando para um empate se não fosse o meu erro de pensar que não mais poderia perder num final de bispo de cores opostas e torre. Munoa seguiu firme e com bons planos me pegou no contra pé. Depois de um empate com o Orguim  e mais uma derrota pro MF Luiz Nei, o décimo lugar foi mera consequência.

No entanto, minha vitória contra o MF Olivência foi uma façanha competitiva que me deixou muito satisfeito, pois foi minha primeira vitória contra esse forte mestre do xadrez gaúcho. Foi mais um tabu muito importante de ter sido quebrado. Abaixo apresento a partida. 





quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Qual a importância de uma final de Estadual?

Acho que essa deveria ser a primeira pergunta que o organizador de tal evento e os enxadristas deveriam ter em mente e na medida do possível deveriam também tentar respondê-la. 

Ano passado tivemos provavelmente a final gaúcha mais fraca de todos os tempos com apenas 13 jogadores e com a presença de apenas 1 ex-campeão estadual. Não tivemos nenhum mestre na disputa e outros muitos jogadores que poderiam ter comparecido para disputar o título também se abstiveram de participar. Razões: Falta de premiação? É justo que quem dedica tempo pra jogar um bom nível de xadrez escolha torneios que possam lhe dar retornos razoáveis. Sabemos da dificuldade que há em conseguir apoio para o xadrez e uma final com premiação baixa e apenas para os 3 primeiros é compreensível, embora desmotivador não só para os melhores jogadores, mas para todos os enxadristas que poderiam se deslocar para jogar a final e lutar como sempre lutam em todas suas partidas. Se ainda houvesse outras motivações para esse deslocamento de enxadristas... mas não há. Não se faz nem o mínimo que é a divulgação das partidas e fotos. Poderia-se também ser divulgadas algumas análises dos próprios jogadores, diagramas, crônicas, etc. O mais agravante é que quando esses enxadristas não estão satisfeitos e expressam essa insatisfação, a resposta que recebem é do tipo: "não gostou faz melhor", cortando dessa forma qualquer diálogo que poderia haver entre organizadores e enxadristas.

Do estadual apenas o que fica é o nome do campeão em uma lista de campeões estaduais. E as perguntas ingênuas e sonhadoras que fazemos são: que valor tem esse título? o campeão dá sua contribuição para a divulgação do xadrez? é convidado para palestras, simultâneas? Se nós mesmos não respeitamos nossos campeões, quem irá respeitar? Se nós mesmos não respeitamos nosso esporte, quem irá patrocinar?

Para finalizar, parabenizo mais uma vez o tricampeão(!) Eduardo Munoa da Silva. Mais uma vez demonstrou ser um jogador duro na queda.

Minhas partidas do Estadual 2012

1ª rodada



2ª rodada

Infelizmente não tenho essa partida completa. Mas depois de muita luta e com as chances de vitória pendendo para um lado e para o outro durante boa parte do tempo, coube a mim cometer o penúltimo erro e vencer o final.



3ª rodada



4ª rodada

Na posição final, Munoa me ofereceu empate e eu com apenas 1min30s no relógio aceitei. Amadorismo meu, não deveria ter aceito e devido a simplicidade do final (Txf8+, Db8+ e Td8+ trocando todas as peças) deveria ter jogado para ganhar. Aceitei o empate, pois entrava na última rodada com meio ponto a frente dos demais. Empates por conveniência normalmente têm efeitos colaterais.



Acredito que joguei um bom xadrez, talvez o melhor de toda a final, mas pus tudo a perder na última rodada. Jogando contra o Daniel Pertuzzatti saí com uma excelente posição da abertura, mas gastei muito tempo. Entrando no meio jogo comecei a fazer lances muito fracos (cansaço, impaciência e falta de tempo são minhas sinceras desculpas). Pertuzzatti não deixou barato, exclamou pelo menos 2 vezes em resposta e arrematou a partida. Não tenho anotado o jogo completo.

5ª rodada



Partidas em PGN

Resultados completos: CHESSRESULTS

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Resgate histórico: Torneio na SOGIPA - 1992

Um resgate histórico valiosíssimo para o xadrez gaúcho foi divulgado essa semana no youtube pelo enxadrista Antônio Benevenga, dono do maior site para jogar xadrez do Brasil. O torneio em questão é o Torneio Aberto 50º aniversário do departamento de xadrez da SOGIPA que ocorreu há 20 anos atrás e teve a participação de 115 jogadores. Ele ocorreu de 28 a 30 de agosto de 1992, época em que eu ainda com 5 anos de idade, sequer cogitava a possibilidade da existência de um jogo como o xadrez - fui aprender a mexer as peças no ano 2000.

Ao procurar informações sobre esse torneio na internet, encontrei o livro "Xadrez: a guerra mágica" de Egon Klein digitalizado. Nele se encontra a classificação dos seis primeiros colocados. Foram eles:

1º Luiz Nei Menna Barreto 6,5 pts.
2º Daniel Diano (URU) 6 pts.
3º Paulo Sérgio de C. Oliveira 6 pts.
4º André Shuartz 5,5 pts.
5º Paulo Caliari 5,5 pts.
6º Rogério Becker 5,5 pts.





No vídeo podemos ver em ação jogadores que estão ativos até hoje, outros que pararam de jogar e outros que já se foram. Não conheço todos os jogadores que aparecem, mas vou me arriscar a fazer uma lista dos que conheço na ordem que aparecem:

Fred Shaffer (atual diretor do departamente de xadrez da SOGIPA), Airton Dias (Rock'n Rio), Daniel Shossler, Antônio Benevenga, Antônio Rogério Crespo, MI Francisco Trois, Lauro Bertini (falecido), MF Luiz Nei Menna Barreto, Ivan Boere, Rogério Becker, MI Herman Claudius, Paulo Sérgio de Castro Oliveira, Egon Klein (falecido), Eduardo Munoa (com 12 anos de idade). 

Claro que eu poderia listar muitos outros, mas por desconhecimento e pela dúvida achei melhor deixar essa tarefa para quem tiver mais certeza. Fiquem à vontade para aumentar minha lista nos comentários.

Resgates históricos como esse fazem parte da construção de um futuro para o xadrez. Sem a noção de tradição e continuidade, fica muito difícil escrever uma história. E sem história só o que fica são superficialidades banais que nada dizem para as futuras gerações.

Para baixar o livro de Egon Klein:

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O ''enfant-terrible'' de Baku!

Dr. Ronald Câmara

Atualmente, Garry Kasparov, de 16 anos, é a maior sensação do xadrez mundial. Com seu extraordinário triunfo no torneio internacional de Banja Luka, superando ases consagrados como Tigran Petrosian, Ulf Anderson e Jan Smejkal, esse jovem valor passou a ser comparado com os maiores prodígios da história do xadrez.
Há pouco, na vil Espartaquíada Estival dos povos da URSS, “o astro de Baku” voltou a brilhar intensamente, demonstrando a sua notável capacidade enxadrística, ao defender o 2º tabuleiro da equipe da república de Azerbaijão.
Entre suas “vítimas” nesse certame figura o conhecido grande-mestre Lev Polugaievsky. De resto, esta foi a segunda vez que Polugaievsky foi derrotado por Kasparov. No último campeonato da URSS, esse jovem ás do tabuleiro impôs-se brilhantemente, com um inspirado sacrifício, diante de tão categorizado adversário.
Agora, Kasparov voltou a vencer Polugaievsky, superando-o num instrutivo final de torres, repleto de nuances e ensinamentos. 

VII Espartaquíada Estival dos Povos da URSS
Frunze, 13 de julho de 1979
PR – Defesa Siciliana (E85/c)
Brancas – G. Kasparov
Pretas – L. Polugaievsky

1.e4 c5 2. Cf3 d6 3.d4 cxd 4. Cxd4 Cf6 5. Cc3 e6 A variante da Siciliana decorrente dessa formação leva o nome de Sheveningen, por ter sido popularizada no torneio internacional efetuado nessa cidade holandesa em 1923. A sua ideia é obter uma vantagem no centro, com dois peões pretos de e6 e d6 superando a ação do peão branco e4. A principal obejeção contra esse sistema é o seu caráter passivo, não possuindo o dinamismo dos outros esquemas da Siciliana.

6. Be3 a6 7.g4! Este lance caracteriza “o ataque Keres diferido”. Na realidade, este avanço é feito na jogada anterior e foi assim que Paul Keres jogou na sua famosa partida contra Bogoljubov, no Torneio de Salzburgo, 1943. O seu obejtivo é evidente: efetuar um ataque à baioneta, utilizando para isto os peões da ala do rei.

7. ... Cc6 Merece consideração neste momento 7. ... h5, como ocorreu na partida R. Câmara x S. Schweber, Zonal Sul-Americano de 1960. O detalhe é que, neste caso, a continuação 8.g5 permite 8. ... Cg4!, pedindo explicações ao importante prelado de e3.  8. g5 Cd7 9. Tg1 Be7 Uma alternativa mais dinâmica é 9. ... Dc7 10.f4 b5 11.a3 Tb8 12. Dd2 Cc5, com chances recíprocas como evidenciou a partida Sax x Tringov, Torneio de Osijek, 1978.

10. h4 é também viável 10. Dh5 0-0 11. Tg3, com forte ataque. 10. ... 0-0 11.h5 C(d7)e5 12. Cxc6 Cxc6 13.f4 b5 Comparando com a avalhancha de peões brancos ao roque inimigo, o contra-ataque da pretas é bastante modesto. 14. Df3 Bb7 15. Bd3 Cb4 16.f5 exf 17. Dxf5 Cxd3+ 18.cxd3 Dc8 As pretas procuram atenuar os efeitos de uma abertura defeituosa entrando num final materialmente equilibrado. 19.. h6 Te8 Era demasiado arriscado 19. ... g6 em vista de 20. Cd5 gxf5? 21. Cxe7+ Rh8 22. Bd4+, com complicações favoráveis às brancas.

20. hxg7 Dxf5 21.exf5 Bxg5 22. Txg5 Txe3+ 23. Rd2 Tf3 24. Ce4 Bxe4 25.dxe4 Após simplificações, chegou-se a um final de torres sumamente curioso, com vantagem estratégica para as brancas, graças ao seu insinuante peão de g7 e a posição ativa do seu rei.

25. ... Te8 26. Tc1 Começam a surgir os detalhes táticos do final: o mate em c8 defende indiretamente o peão de e4. 26.d5?! De valor duvidoso, este lance transforma uma situação inferior em comprometida. Era preferível 26. ... Tf4, embora com 27. Tc6 as brancas dominassem as ações. 27.e5 h6 28. Th5 A tentadora continuação 28.f6? Seria refutada mediante 28. Tf2+, uma vez que 29. Re3 ensejaria 29. ... Txf6!, com vantagem para as pretas. 29. Txe5 Toda a defesa de Polugaievsky foi calculada nesta captura. Não servia 28. Rxg7 29. Tg1+ Rh7 30.e6 fxe6 31. Tg6! Seguido de mate.

29. f6! Esta “finesse” decide a partida, confirmando o truismo enxadrístico: “toda combinação tem por base um ataque duplo”. No caso, a ameaça de captura da torre e mate destroem todas as esperanças das pretas.

29. ... Tf2+ 30. Rd3 Tf3+ 31. Rd4 Te4+ 32. Rxd5 Te8 33. Txh6 Tf5+ 34. Rd4 é bastante instrutiva a manobras do rei branco para anular os xeques das torres pretas. 34. Tf4+ Rc5! 35. Tf5+ Era igualmente perdedor 35. ... Tc8+ 36. Rd5 Tf5+ 37. Re4 e ganha. Por outro lado, não servia 35. ... Txf6 por causa de 36. Txf6 Tc8+ 37. Tc6! Com fácil triunfo. 36. Rb6 Te6+ 37. Tc6! As pretas abandonaram. Somente à custa de uma torre o mate poderia ser evitado. Uma eloquente produção do “enfant terrible” de Baku!