quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O conceito Medo no Xadrez

Todo jogador de xadrez conhece a célebre máxima que diz: “a ameaça é mais forte do que a execução.” Conta-se que Nimzowitsch proferiu tal frase quando certa feita estava para jogar contra o forte adversário fumante chamado Vidmar. Nimzowitsch não gostava nada que seus oponentes fumassem durante as partidas. Vidmar, sabendo disso, levou seu cigarro e seu fósforo para a sala de jogos. Durante a disputa ele ficou com o cigarro apagado na boca e com o fósforo na mesa. A simples ameaça de acender o fumo desconcertou Nimzo que não tinha como reclamar e acabou perdendo a partida facilmente.

E nós, enxadristas comprometidos com a causa de Caissa, seguidamente nos vemos ludibriados por uma ameaça que não é objetivamente tão forte, apesar da aparência, e deixamos nossa posição colapsar com lances defensivos e profiláticos, ao invés de iniciar aquele tão querido contra-ataque que poderia ter sido e não foi. Mera questão de conceito? Talvez. Mas eu diria mais: questão de sentimento, emoção, medo – e no xadrez não existe conceito mais importante do que controlar esses aspectos inerentes em qualquer posição, desde o simples primeiro lance da partida.


Jogam as pretas e seguram a posição.


Na posição acima, tirada da partida entre Baadur Jobava da Georgia e Namig Guliyev do Azerbaijão, jogada na Copa do Mundo de Xadrez que aconteceu em Khanty-Mansiysk na Russia no mês de Setembro desse ano, percebe-se que as peças brancas estão assustadoramente colocadas na vizinhança do rei preto. O pobre monarca encontra-se encurralado em h8, com colunas abertas, diagonais e patadas de cavalo atingindo sem piedade o que outrora fora a fortaleza que o protegia. Assusta e assusta muito. Qualquer um poderia nessa posição perder a cabeça e fazer justamente aquele lance defensivo que perde. Foi o que aconteceu com Guliyev que teve que abandonar rapidamente. Vejamos como ele continuou a partida:

1. ... Dc7 2. Txf7 Tf8 3. Taf1 Txf7 4. Txf7 Tf8 e agora nessa posição as brancas tem mate forçado em 4 lances. Desafio o leitor a encontrá-lo.


Brancas jogam e dão mate em 4 lances.


Mas vejamos por outro lado esse intrigante ataque: as virtudes de uma posição não são vistas e são deixadas de lado porque o sentimento de medo que as ameaças impelem nos impede de vê-las. Afinal, o cavalo preto em d4 e o bispo em e5 estão muito bem colocados e, apesar da posição exposta do rei, o centro é controlado harmoniosamente pelas peças e peões pretos. Um conceito muito importante aparece latente nesse momento: se uma ataque em uma das alas se avizinha, mantenha-se de olho atento para o centro, é lá que vai acontecer a verdadeira batalha. Por isso que um ataque em uma das alas só vai ter reais chances de ser vencedor, salve as exceções, se o centro estiver estabilizado. Por que então o branco teve sucesso nessa partida? Porque, a tática, que é o cão de guarda da estratégia, do xadrez posicional, esteve dormindo enquanto soldados inimigos saqueavam o palácio real.

Vejamos como seria possível uma defesa satisfatória, a partir do primeiro diagrama:
1. ... Tg8 2. Txf7 De8 3. Taf1 essa é a parte crítica em que dentre inúmeras possibilidades de defesa, as negras terão que escolher qual, em seu ponto de vista, é a mais promissora 3. ... h6 4. Cd5 exd5 5. Td7 Ce2 + 6. Rf2 Bc8 7. Bf6+ Bxf6 8. Th7 Rxh7 9. Cxf6+ Rh8 10. Dxg8 Dxg8 11. Cxg8 Rxg8 12. Rxe2 – e não há dúvidas de que o pior já passou.

4. ... Cc6 com ameaça de Bd4+ seguido de Cce5 e as peças pretas ficam ainda melhores colocadas.

Não estou dizendo que a posição do preto é melhor ou mais confortável. Mas assim como os lances defensivos são difíceis de serem encontrados, nessa posição também os lances de ataque não são nada fáceis. Qualquer vacilo de ambas as partes pode ser fatal – um vacilo por parte do preto pode levar o seu rei ao xeque-mate e um vacilo por parte do branco pode deixá-lo com grande desvantagem posicional que fatalmente o levará a derrota. Portanto, se estamos com nossa parte conceitual em dia, teremos certamente mais confiança para achar os lances corretos que garantem a nossa permanência firme na partida, pois sabemos que eles têm que necessariamente existir. De outra maneira, se nos sentimos perdidos e não conseguimos enxergar as possíveis virtudes de nossa posição, estamos com certeza fadados ao fracasso.

Estive em situação análoga na última rodada da Semifinal do Campeonato Brasileiro em 2010. Na ocasião eu enfrentava de pretas o MF Frederico Matsuura (Irmão do famoso GM Brasileiro Everaldo Matsuura). A seguinte posição foi alcançada:



Por incrível que pareça eu me sentia mal nessa posição – olhando agora de longe nem mesmo eu consigo entender por que a eminência do ataque branco me cegou tanto os olhos. Na entrevista que eu dei para o Guiga, pouco depois da semifinal, eu falei da seguinte maneira a respeito dessa partida:

“Na última e decisiva rodada, eu tinha a chance, caso vencesse, de ficar entre os primeiros colocados da competição com 5 pontos. Joguei contra o MF F.M e superestimei a posição do meu adversário, fazendo lances defensivos muito fracos, ao invés de pensar no contra-ataque pelo centro e explorar minha maioria na ala da dama. Matsuura se aproveitou da oportunidade e entrou com todas as peças na minha ala do rei e eu tive que abandonar, após algumas especulações.”


A partir da posição mostrada, a partida seguiu da seguinte maneira: 1. ... Te8? Fraquíssimo. A torre não faz nada em e8 – a minha única ideia nesse lance era liberar a casa f8 para que uma peça viesse defender minha ala do rei. O avanço do peão “f” do meu adversário me dava calafrios. Ao invés disso, um plano muito simples era possível: 1. ... Bc6 seguido de Ta8, tomando posse da coluna. O que me fez rechaçar de pronto essa possibilidade foi a seguinte variante: 2. Ch4 Ta8 3. Dg4 – a chegada de tantas peças na vizinhança do meu rei, além do possível avanço do peão “f” foram as razões dos meus subsequentes erros. Eu não consegui enxergar que minhas peças bem articuladas no centro eram suficientes para a defesa e inclusive para pensar na vitória. Depois de 3. ... Rf8 o ataque das brancas é estancado porque o avanço do peão “f” é impossível, pois nesse caso o bispo de e3 ficaria indefeso. 4. Dh5 Db7 e agora que mais o branco pode fazer além de especular com 5. Cg5 C(d7)b6?

2. Ch4 Be7 3. Dg4 Rh8 4. Dh5 Rg8 5. Bxh6 gxh6 6. Dxh6 Bf8 7. Dg5+ Bg7 8. Cd6 Te7 O ataque, apesar do erro, foi parado graças à boa colocação das peças pretas e o domínio do centro. Mas nesse tipo de posição são os nervos que mandam e a dificuldade é que é preciso sempre se fazer os melhores lances, caso contrário o ataque branco volta a ser muito perigoso.

9. Ta1 Bc6 10. Cf3 Cf8 Outro lance estritamente defensivo em um momento que não era necessário. Era possível 10. ... Dc7 e em algumas linhas até f6 pode ser jogado. 11. h4 11. Cc8 era bom. Eu não me preocupei com isso pois na minha concepção trocaria uma torre passiva por um cavalo bastante ativo. Mas no final das contas o final que se apresenta é bastante favorável às brancas. 11. ....Ta7 12. Tb1 Aqui as pretas tomam a iniciativa. O fato é que durante a partida as avaliações são muito obscuras e dificilmente se tem certeza para onde a correnteza vai nos levar. 12 ... Cd3? Uma pena, a seguinte variante daria excelente perspectivas para as pretas: 13. ... Bxe4 14 Bxe4 Ch7 15. Dg3 Rf8 e a maioria preta se prepara para avançar. 13. Dg4 Bxe4 14. Cxe4 Rh8? O erro decisivo. Com 14. ... Ch7 o ataque branco é parado e as vantagens da posição preta aos poucos iriam se fazer sentir. Se 14. Cf6+ as negras simplesmente retiram seu rei para h8. 15. Dh5+ Rg8 16. Cf6+ Bxf6 17. exf6 1-0

Portanto, olho atento para que nossas decisões não sejam influenciadas por fatores psicológicos. Embora seja claro que elas sempre serão, com certeza se tivermos mais atenção a esse fator tão importante do xadrez, menos erros cometeremos e os resultados positivos aumentarão consideravelmente.


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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Simultânea Vescovi/Kasparov x Eider Cruz - Empate! Parte II



Não adianta. Enxadrista é enxadrista e não muda, nem aqui nem na Russia. Quando há peças postas sobre as 64 casas do tabuleiro é impossível conter o turbilhão de idéias e ensaiar uma boa e rejuvenescente peruada.

Mas a minha saga continua e ainda há muito jogo pela frente. Claro que quando tomei em c5 a pergunta que me vinha frequentemente na cabeça era "o que será que ele viu que eu não vi?" Se eu tivesse visto a reação do Kasparov mostrada nas fotos do post anterior, ou no vídeo abaixo, eu poderia ter ficado mais tranquilo. (Atenção a partir do 1min30s)


19. dxc5 e5 20. Bxh6 Aqui Vescovi perdeu o compasso. O conceito é simples: o peão central de e5 vale muito mais do que um peão de h6. Portanto era necessário, por exemplo, 20. Cxe5 Cxe5 21. Bxe5 Txe5 22. Ce2 com chances iguais para ambos os lados.

20. ... e4 21. Dd4 exf3 22. Bg5 fxg2 23. Tfc1 Ce4 Também é bom, mas melhor ainda é 23. ... Ch7 seguido da tomada de peão em c5. Em algumas linhas o cavalo de h7 ficará excelente colocado em e6 via f8. 24. Bf4 Não é nada fácil ver na velocidade de uma simultânea a linha 24. Cxe4 Txe4 25. Ta1 Txd4 26. Txa5 Com boas possibilidades de salvar a partida. O lance do texto dá a possibilidade das pretas de tomar imediatamente o peão de c5, sem nenhuma compensação para o branco, visto que o cavalo pode na sequência situar-se muito bem em e6. Eu vi alguns fantasmas na posição e procurei uma linha que me levasse seguramente ao empate. Não há explicação para essa minha decisão, a não ser as de ordem psicológica. Uma pena.

24. ... Cxc3? não há como não colocar uma bela interrogação nesse lance. 25. Dxc3 Te4 Ao receber meu última lance, Kasparov respirou aliviado e disse com ar de quem acaba de escapar de uma enrrascada: "well, the worst is over" (bem, o pior já passou). Estranho ele falar em tom audível essa frase e muitas outras em inglês como se pensasse que ninguém poderia entendê-los. Pelo menos eu e o Dr. Flávio que estava ao meu lado podemos entender muitas coisas, as quais ele e eu comentávamos e ríamos disfarçadamente. 26. Dxa5 Txa5 27. Bd6 Tc4 28. Txc4 dxc4 29. Tc1 Cxc5 30. Txc4 Cb7 31. Txc6 Cxd6 32. Txd6

Ao invés de entrar com um peão a mais no final, entrei com um peão a menos.
Eu sou um fenômeno.



32. ... Tg5 33. Td4 g6 34. Tg4 Ta5 35. Rxg2 Rg7 36. h4 Tb5 37. Tb1



37. ... Rg3 É impossível deixar passar o que sucedeu após o Vescovi ter feito esse lance. O maior jogador de todos os tempos peruando na minha frente e ainda errado é algo que não é qualquer um que pode se orgulhar de ter visto pessoalmente e ainda por cima na sua própria partida.

Quando Vescovi moveu seu rei para frente, pude perceber o seguinte diálogo:

K. Why not h5? (Por que não h5?)
V. Then King h6. (Então Rh6)
K. ohhh (ahhh)

Surrealmente extraordinário. Se é que dá pra se falar assim.

38. ... Ta1 39. Tc5 Tg1+ 40. Rh2 Tg4 41. Rh3 Tg1 42. e4 Th1+ 43. Rg3 Tg1+ 44. Rf4 Th1 Tablas

Depois do meu 44º lance, Vescovi ofereceu empate e eu prontamente aceitei. Após tê-lo cumprimentado fui assinar a planilha, mas de relance senti a presença de Kasparov muito próxima e achei que não seria educado não cumprimentá-lo também. Ergui minha mão em direção a ele, carregando inconscientemente todo significado que esse gesto carrega no término de uma partida de xadrez. Kasparov sentiu seu sentido lancinante e num susto, com uma gaguejada que lhe é característica, disse: "I didn't play the game" (Eu não joguei a partida). Eu recolhi parcialmente minha mão esperando que dessa vez a dele viesse de encontro e disse que o primeiro lance tinha sido dele e que fora o mais forte. No meio de boas risadas e muita desconstração ele me cumprimentou com aparente bom humor.



Nesse vídeo abaixo, dá pra se ver claramente o momento a partir do 2min.






Baixar PGN da Partida

Para mim foi um sonho participar dessa simultânea. Agradeço muito ao Reitor da UFRGS Carlos Alexandre Neto que lembrou do meu nome quando surgiu a vaga e a todos que tornaram esse evento histórico realidade. Espero que tenham gostado das postagens e sintam-se à vontade para comentar.

Créditos das fotos:

IXC
Luciano Enzweiler
Minha irmã Natália

Mais informações:

Blog do IXC
Marcos e o Xadrez
Xadrez Gaúcho


terça-feira, 13 de setembro de 2011

Simultânea Vescovi/Kasparov x Eider Cruz - Empate! Parte I

Foram tantas coisas que aconteceram nessa última semana no Xadrez Gaúcho (e por que não Brasileiro?) que nem mesmo sei se posso fazer um relato cronológico consistente, coeso e conciso. Mas prometo que vou tentar.

Como de costume nessa época do ano em Porto Alegre, o clima estava estranho. Frio e sol forte: Ameno. Ideal para uma tarde que entra para a história. E muito gente esteve no Chalé da Praça XV para assistir de perto a lenda viva do Xadrez na tarde de 06 de setembro de 2011, véspera de feriado. Com certeza mais gente do que todos imaginavam. Inclusive pôde-se perceber claramente a surpresa do Vescovi e do Kasparov quando chegaram ao salão dos jogos. Olhavam para as pessoas do público que apertadamente disputavam um melhor ângulo para vê-los e se entreolhavam espantados.





Puxando a brasa para o meu assado, esteve lá minha mãe, meus irmãos e irmãs, meu sobrinho de apenas dois meses, minha namorada, minha cunhada, meu cunhado, amigos e colegas da faculdade. Alguns que curtiram muito o evento, mesmo sabendo pouco ou nada de xadrez. Quando o meu nome foi apresentado, se ouviu uma forte vibração do lado de fora. É sempre bom saber que se é muito querido pela pessoas que nos cercam. =)


Sentei na cadeira que me era destinada para jogar a partida. Peguei a caneta e num gesto mecânico, tantas vezes repetido, puxei a planilha e preenchi a data rapidamente, mas quando comecei a preencher o nome do meu adversário, foi como seu eu tivesse tomado um choque. Parei de pronto, olhei para os lados, para meus companheiros vizinhos e parceiros na empreitada, com o coração batendo no compasso de Caissa e disse: "Que coisa estranha escrever Kasparov na planilha". Não consegui me expressar de outra forma, acostumado que sou em escrever o nome de pessoas conhecidas, comuns, atingíveis, tocáveis. Foi uma experiência fora da realidade perceber que o que até o momento fora para mim um ícone, um símbolo, uma lenda que lia nos livros, nas incontáveis horas de estudos e fruição da arte do xadrez, que me encantava pelos seus lances, suas idéias novas e pela sua história, estaria dentro de instantes movimentando as mesmas peças que estavam à minha frente.

Mas como já tinha sido previsto, Kasparov jogou apenas o primeira lance de cada partida. Foi intercalando 1.e4 e 1. d4 nos tabuleiros, mas quando chegou no tabuleiro meu e do Felipe, ele emendou sem vacilar duas vezes 1. d4. Estranha coincidência - será que ele tinha combinado alguma coisa com o Vescovi? Nunca saberemos.

Depois disso ele foi dar autógrafos e entrevistas para os muitos fãs e jornalistas ali presentes. Enquanto isso, Vescovi ia de mesa em mesa firmemente realizando seus lances. Postura ereta, rosto tranquilo, simpático e amistoso de olhar impenetrável. Mudou um pouco de expressão a partir do 15º lance de nossa partida, vejamos uma pequena análise ilustrada:

1. d4!!! O primeiro lance mais forte que já recebi na vida.


Fiquei com medo de me machucar com os estilhaços.


Felicidade.

1.... Cf6 2. c4 e6 3. Cf3 d5 4. Cc3 Be7 5. Bf4 c6 6. e3 0-0 7. Dc2 Cbd7 8. Td1 a6 9. c5 Quem sou eu pra criticar um lance de um GM, ainda mais um da envergadura do Vescovi, mas não gostei desse lance. A razão me parece simples: o rei do branco ainda está no centro e o bispo-rei ainda se encontra na sua casa original, ou seja, há um atraso que salta aos olhos no desenvolvimento na ala do rei. Com 9. c5 o preto já começa a bater num ponto de ruptura importante em b6, ganhando tempo no desnvolvimento de sua ala da dama. Os problemas de desenvolvimento do preto parecem ser facilmente resolvidos, o que já é uma vitória.

9. ... b6 10. b4 a5 11. a3 h6 12. Bd3 axb5 13. axb5 bxc5 14. bxc5 Da5 melhor é Ta3, seguido de Da5. 15. 0-0 Ba6 16. Tb1 Nesse momento, Vescovi quase que joga um lance que colocaria a partida imediatamente em sérios apuros. Ele foi com sua torre até a1 e parou ela por um segundo, quase largando a peça, mas calculou em velocidade instântanea - acredito que mais com a força de sua intuição do que pelo cálculo matemático puro- 16.... Bxd3 17. Dxd3 Dxa1 18. Txa1 Txa1 19. Cd1 e voltou sua torre uma casa para o lado: então eu pude voltar a respirar. Eis a prova irrefutável:


Casi, casi!
Perceba o semblante de quem não gostou do que viu.


16. ... Bxd3 17. Dxd3 Te8 Esse é um lance chave. Embora ele não faça nada de fato importante, tem a virtude de deixar as coisas como estão, "mantendo" o status quo da posição (talvez já mantenha também um olho no apoio de um quase impossível e5 no futuro) e ameaçar o imediato Bxc5, caso as brancas não façam nada a esse respeito. 18. h3 E vescovi não fez. Acredito que ele não tenha visto a tomada em c5 e como eu tinha feito no lance anterior, realizou um lance de espera que tem a virtude de guardar a casa h2 para o bispo, caso as negras jogam algo como Ch5 em algum momento.

18. ... Bxc5 Agora a partida começa a ficar difícil para Vescovi. Ainda mais se formos ver pelo lado da simultânea. Mesmo sendo um Grande Mestre de tal envergadura, ele precisa de concentração para encontrar a solução de alguns problemas. E nesse caso ele ainda tinha que lidar com mais 19 mesas, sendo que a partida do Felipe Menna Barreto parecia que ia ser longa. Aqui vai uma sequência de fotos esclarecedoras:

Vescovi e Kasparov contemplam 18. ... Bxc5


Vescovi responde e Kasparov sente que a coisa tá feia.

Continua incrédulo olhando para a partida.

E permance observando mesmo com o Vescovi já longe.

Enquanto Vescovi refletia sobre o lance que acabara de receber, Kasparov olhava pra nossa posição, fazia cara de que não estava gostando nada e sussurrava algumas palavras indecifráveis no ouvido de Vescovi, às quais ele respondeu claramente da seguinte maneira. "We are going to find something.!" (nós vamos encontrar alguma coisa). Me senti tão orgulhoso com esse "Nós" que mal pude caber em mim. O melhor jogador do Brasil e o melhor de todos os tempos do mundo unidos para me derrotar. Acho que eu já poderia anunciar minha aposentadoria dessa minha curta carreira de enxadrista realizado, não?


Posição após o 18º lance das pretas.


To be continued...

sábado, 3 de setembro de 2011

Kasparov em Porto Alegre - Simultânea

O mais importante da minha conquista nos jogos universitários foi acontecer dias depois. O tetra campeonato do Xadrez da UFRGS saiu na capa principal do site dessa intituição e pelo título universitário estadual o Reitor Carlos Alexandre Netto me convidou para assistir a palastra de Kasparov no Fronteiras do Pensamento e, além disso, indicou o meu nome aos patrocinadores para fazer parte da simultânea que Kasparov dará terça-feira dia 06/09 às 16h no Chalé da praça XV: o sonho de uma vida se realizando.

Garry Kasparov


Abaixo, vídeo de G. K. dando uma simultânea em 2009:



Essa vai ser a linha da Siciliana que eu vou jogar contra ele, quem mandou me ensinar?



Brincadeiras à parte, gostaria de deixar aqui o convite para todos que gostam de xadrez, ou tem curiosidade a respeito desse jogo-arte-ciência, compareçam no Chalé da praça XV na terça-feira às 16h. É um evento simplesmente imperdível.