quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Eider Cruz x Rodrigo Borges - Final Circuito Oncosinos de Xadrez Clássico

2° Lugar Prêmio de Beleza

Com certeza uma das melhores partidas da minha vida, mas (pasmem!) tive que ouvir inclusive que nela me faltou criatividade. Para mim ela foi especial não só pelo aspecto alucinante do jogo em si, mas também pelo extra jogo e pela surpresa que o meu simples primeiro lance 1. e4 deve ter causado. Não havia jogado e4 em partidas pensadas e em partidas rápidas nos últimos 6 anos, a não ser uma partida contra o Eduardo Munoa na qual fui severamente massacrado. Sabendo que com certeza meu adversário atual campeão gaúcho esperava jogar uma Índia do Rei ou uma Benoni Moderna, julguei por bem surpreendê-lo logo de cara, já que estava seguro que ele jogaria a defesa Siciliana. Nesse momento, eu acredito, já estava um passo a frente na luta que seria travada.

1.e4 c5 2.Cf3 d6 3.d4 cxd4 4.Cxd4 Cf6 5.Cc3 a6 6.Be3 e6 Aqui estava esperando 6. ... e5, ao qual estava preparado pra responder com 7. Cb3 Be6 8. f4. Como não foi o caso, me vi agora jogando por mim mesmo, sem preparações prévias, somente crente na minha vantagem psicológica que não sabia ao certo se era verdadeira ou não, mas a sentia e isso é o que importa. Pensei nas linhas do Ataque Inglês com f3, Dd2 e o-o-o, mas não me senti seguro para jogá-lo, julgando que era exatamente o que meu adversário queria. Portanto, decidi ser mais direto e continuar a minha estratégia de surpreender, colocando no tabuleiro uma posição que acreditava ser a mais diferente possível dentre as que o meu adversário estava esperando.

7.g4! e5



8.Cf5 g6 9.g5 gxf5 10.exf5 A única partida que eu conhecia nessa variante era Judit Polgar x Anand jogada em 1999. Tive contato com ela em 2003 através de uma revista francesa “Europe Echecs” que meu amigo de Canoas, Daniel ramos, havia me emprestado.



10...d5 Se as negras resolvem manter a peça de vantagem com, por exemplo, Cfd7, então Dh5 seguido de roque maior e g6 é praticamente decisivo. É importante notar também a dificuldade de desenvolvimento das peças negras que ficam se batendo nas linhas de trás, enquanto as peças brancas entram facilmente em jogo, controlando a casa d5 e com ataque imparável mediante os peões de f5 e g6, visto que o rei negro além de tudo encontra-se no centro.

11.Df3 d4 12.0–0–0 Dc7?! Esse é o primeiro deslize das pretas. 12. ... Cbd7 era melhor, já que além de se livrar da cravada, desenvolve uma peça de sua ala da dama estagnada. Poderia seguir por exemplo: 13. Bd2 dxc3 14. Bxc3 Bg7 15. Tg1 0–0 16. gxf6 Dxf6 - Como aconteceu na partida acima citada. 13.Bxd4 exd4 14.gxf6



Bh6+? Nessa posição há muitas possibilidades e variantes intrincadas a serem analisadas, mas com certeza Bh6+ não foi o melhor lance. Embora pareça que as negras conseguem mais uma casa para seu rei em f8, ela é muito desconfortável. Há duas variantes principais aqui. A primeira se inicia com 14. dxc3 e a segunda com 14. Cc6. A primeira elimina de cara o cavalo que poderia ficar assustador em d5, mas abre mais uma coluna na cara de seu próprio rei. O interessante é que, com o bispo resguardado em f8, é possível depois do xeque de dama branco na coluna "e", devolver a peça com Be7 e não com Be6. Mesmo assim, com jogo devidamente enérgico do branco, as pretas não parecem ter chances de conservar esperança. A segunda, embora permite o pleno controle da casa d5 pelo cavalo branco, tem a virtude de desenvolver a esse preço as peças da ala da dama afim de achar um porto seguro para o rei. Por exemplo, 14. Cc6 Cd5 15. Dd6 Bg2 16. Bd7 The1+ 17. Rd8.


15.Rb1 dxc3 O grande problema do preto aqui é que seu rei se encontra irremediavelmente trampado no centro e as brancas, embora com duas peças a menos, usam ao máximo o potencial das que lhe restam. 16.De4+ Rf8 17.Db4+ Re8 18.Bb5+ Não é sempre que se tem a oportunidade de se fazer um lance como esse. Sacrifica-se o bispo para a outra torre entrar rasgando nas colunas centrais. 18...axb5 19.The1+ Be6 20.fxe6 Cc6 21.Dh4 As brancas estão com duas peças a menos fenotipamente, mas geneticamente falando estão com duas qualidades a mais.

21...Bd2?! Não é fácil colocar um ponto de interrogação inteiro nessa lance, visto que maneira de salvar a partida é através de uma linha de sacrifício de dama. Embora seja bem difícil poder avaliá-la de forma correta durante a partida, o MF Luiz Ney foi um dos que a sugeriram no Post Mortem. 21. ... Df4 22. Dh5 Dxf6 23. exf7 Rf8 24. Te8+ Rg7 25. Tg1 Dg6 26. Txg6+ hxg6 27. De2 e agora as negras jogam 27. ... Td8 seguido de Tf8 e uma nova fase de manobras se iniciaria na partida com boa vantagem para as brancas, enquanto as negras continuariam sua árdua defesa 22.exf7+ Rxf7 23.Dh5+ Rxf6 24.Txd2 cxd2 25.Df3+ Rg5 26.Tg1+ 1–0




5 comentários:

  1. Meu caro, mais uma de tuas postagens que nos trás muito aprendizado. Sem dúvida que partida como essa nunca foi vista no cenário enxadrístico gaúcho, e com todo o respeito merecia certamente o primeiro lugar do Prêmio de Beleza do torneio.

    Grande Abraço

    Elisandro Pimenta

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  2. Obrigado meu amigo por ter lembrado dessa época de nós estudando xadrez.

    Não fica brabo, mas insisto que 10...d5 é ruim
    deveria ser 10...Bxf5 e 11...Cc6

    Daniel Ramos

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  3. Foi uma partida bonita sem dúvidas. Parabéns.

    Giulliano Machado

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  4. Mas, como se definem os critérios para eleger uma partida no critério de "beleza"?

    Beijo,

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  5. Sem dúvida uma partida fantástica(para os nossos termos é claro!).Valhe a pena comentá-la aqui no blog e esmiussá-la ao máximo se possível.Leontxo diz que como outras coisas uma partida bonita de xadrez pode trazer felicidade a um homem segundo critérios estudados em laboratórios.É assim que a gente se motiva a continuar jogando,pois o xadrez nos traz felicidade!Peças para frente e para trás!

    MBS.

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