quinta-feira, 26 de maio de 2011

Exercício V

Esse final surgiu na partida decisiva das Olímpiadas Comerciárias do ano passado entre meu aluno Guilherme Moraes de São Borja e Tiago Braz de Santana do Livramento. Tudo se encaminhava para o empate que faria de Tiago o campeão do torneio, pois estava com 100% de aproveitamento e seu adversário tinha empatado uma das partidas anteriores. No entanto, nessa posição Tiago jogou a5 com a intenção de colocar em marcha seu peão passado distante e, a partir de então, a partida tomou rumos inesperados.


Tiago Braz x Guilherme Moraes
Porto Alegre, 2010


Qual é o problema de 1. a5? Com qual idéia você acha que o branco deveria continuar a partida?
Deixe sua resposta nos comentários.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

V Cultura Open – Parte II – O Torneio

Resolvi fazer o primeiro post sobre o match dos campeões porque esse era de fato o mais surpreendente e inovador aspecto dessa V edição. A qualidade do ambiente, da organização e da arbitragem do torneio da Livraria Cultura já não é mais nenhuma novidade. Aliás, essas louváveis características estão sendo uma constante em todos os torneios que tenho jogado ultimamente. O jogo de cavalheiros tem realmente sido de cavalheiros e não vejo mais discussões intermináveis no congresso técnico como eu, quando piá, era acostumado a acompanhar em quase todos os torneios que participava sem entender nada. Os problemas (inevitáveis) que surgem, os árbitros estão conseguindo resolver sem maiores problemas. Méritos do Leonardo Pereira, do Marcelo Konrath e do Orguim, árbitros que mais trabalham - pelo menos na região metropolitana.



O destaque na minha opinião foi o vice-campeão André Gazola que vem despontando sempre nas primeiras colocações e vem jogando um xadrez muito bem trabalhado. Uma pena que eu não pude acompanhar os jogos decisivos – gostaria muito de ter visto o desenrolar da partida do Gazola contra o Guilherme Genro e do Felipe contra o Munoa que devem ter sido embates muito duros.


André Gazola x Guilherme Genro

Felipe Menna Barreto x Eduardo Munoa

Outro fator positivo que eu gostaria de apontar é que eu tenho a impressão de que o nível técnico dos torneios tem aumentado. Muitos jogadores vêm surpreendendo, como é o caso do Dayan que surrou impiedosamente a mim nesse torneio e ao Munoa em Novo Hamburgo (em breve post sobre esse evento). Em um torneio com Felipe Menna Barreto, Eduardo Munoa, André Gazola, Guilherme Genro, Rodrigo Bruscato, André Shwartz, Dayan, é preciso suar muito a camiseta pra se destacar. Esse quadro ficaria ainda mais bonito se outros jogadores, conhecidos pelas suas forças, saíssem de suas tocas e jogassem os torneios que estão cada vez mais frequentes.

Meu desempenho no torneio foi prejudicado por duas derrotas que me deixaram longe da luta pelas primeiras colocações. A primeira derrota foi contra o Guilherme Genro que me acertou novamente um tático desconcertante. Cometi dois erros gravíssimos em sequência, depois de ter saído muito bem da abertura e levado com tranquilidade meus planos até os desastrosos Bxf6 (não vi que retomava de dama) e Bh3. Essa foi a partida que me causou a impressão mais forte dentre todas as do torneio, por essa razão deixo ela reproduzida logo abaixo:

Contra o Dayan eu fui dominado do início ao fim. Depois do sacrifício de peça em b5 de meu adversário, eu deveria ter jogado Dc6, ao invés de Db8, mantendo o cavalo protegido e então cairia o peão de “a” branco, dessa forma minhas chances aumentariam consideravelmente. Com Db8 eu entro já num final muito difícil pra mim – ainda tentei abrir a posição do rei do meu adversário para tentar explorar a exposição do seu monarca, mas Cb3 segura tudo e o Dayan conduziu com segurança a partida até a vitória.


Mais uma vez parabenizo os organizadores do evento, em especial o Leonardo Terra que trabalha muito para que o Cultura Open seja sempre esse sucesso.

Mais informações e fotos:

Xadrez Gaúcho

Blog do IXC

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Eider Cruz x Rafael Santos - I Cultura Open

Cultura Open III, IV



segunda-feira, 23 de maio de 2011

V Cultura Open - Parte I - Match dos campeões!


Permitam-me começar pelo final. Dessa vez o já clássico Torneio da Livraria Cultura nos brindou com um gran finale espetacular. O campeão do Torneio da Livraria de Porto Alegre, Felipe Menna Barreto (2193), jogou ao final um match de 3 partidas pelo site do IXC com o campeão do Torneio da Livraria de Brasília, Victor Shumyatsky (2417), já que os dois eventos ocorreram simultaneamente. Não tenho conhecimento de disputa semelhante a essa no xadrez brasileiro - deve ser a primeira vez que esse tipo de embate acontece.


Felipe Menna Barreto teve a árdua tarefa de enfrentar uma das maiores revelações do xadrez Brasileiro (provável futuro GM) nos últimos tempos. Jogador que na final do Campeonato Brasileiro ano passado havia vencido consistentemente ninguém mais do que Rafael Leitão (2622). Link para a partida. Shumyatsky tem apenas 14 anos, mas já vem mostrando a algum tempo um jogo muito maduro.



Durante as três partidas, houve um silêncio geral no auditório, algo muito raro em se tratando de partidas blitz. Não se ouviu nada durante aqueles minutos, a não ser o movimento das peças no visualizador e alguns perus se contorcendo nas cadeiras, principalmente, diga-se por passagem, quando Felipe estava prestes a levar mate em um na terceira partida. Mostro aqui as três partidas jogadas e tomei a liberdade de dar uma rápida analisada na terceira partida que na minha opinião foi a mais bonita e a mais emocionante. Vale ressaltar que as partidas são de xadrez rápido 3x3 e que nesse caso os erros de ambos os lados podem aparecer de forma mais frequente do que no normal, portanto fica bem claro que eu não faço nenhum juízo de valor aos jogadores pelas escolhas de seus lances.

1ª partida



2ª partida Nessa, adaptando a giria do futebol, o Felipe não viu nem a cor das peças.



3ª Partida

1. Cf3 Cf6 2. d4 g6 3. c4 Bg7 4. Cc3 O-O 5. Bf4 d6 Teria sido interessante as linhas agudas da Grunfeld que se originam a partir de 5. ...d5 6. e3 Cfd7 Tenho no meu banco de partidas 31 jogos com essa posição. Entre elas uma partida em que o próprio Felipe jogou em Vila Martelli em 2008 também com as brancas contra a WMF brasileira Paula Delai (2030). Essa partida o Felipe venceu.

7. h3 e5 8. Bh2 Re8 9. Be2 c6 10. O-O Ca6 11. Dc2 De7 12. a3 Cc7 13. Tad1 b6 14. Tfe1 Bb7 15. dxe5 Cxe5 16. Cxe5 dxe5 17. Bf3 Tad8 Dá a chance do branco explorar a descordenada cadeia de peões pretos. Melhor é 17. Ce6, mantendo as chances iguais. 18. Rxd8 Mas as brancas por sua vez perdem a oportunidade. 18. Da4 ganharia pelo menos um peão, sem nenhuma compensação para as pretas.

18. ...Txd8 19. Td1 Ce6 20. Ce4 Txd1+ 21. Dxd1 c5 22. Cc3

22. ... Bxf3 Dessa forma as pretas cedem deliberadamente a importante diagonal h1-d8 e com ela o conjunto de casas brancas do centro. Era preferível 22. ... e4 com as seguintes possíveis variantes: 23. Cxe4 Bxb2 ou 23. Bxe4 Bxe4 24. Cxe4 Bxb2 23. Dxf3 h6 24. Da8+ Rh7 25. Cd5 25. Cb5 colocava problemas imediatos na posição negra. 25. ...Dd7 26. Rf1 Esse lance é bastante ruim. Típico de partidas nesse ritmo. 26... e4 No entanto, as Shumyatsky não aproveita. Com 26. ... Da4 teria destruído rapidamente tudo o que o branco havia conquistado na abertura. 27. b3 Como o Felipe não é bobo, bloqueia sem pensar duas vezes o acesso da dama ao coração de sua posição.

27... h5 Era necessário a manobra Cd8-c6. 28. Bb8 Cd8 29. Dxa7 Df5 30. Bg3 Ce6 31. Db6 g5 As brancas estão com clara vantagem, mas... 32. h4 Permitem novamente que a dama negra tenha acesso ao coração de sua posição. 32. ... Dg4 33. Da5 Por um momento pareceu que o Felipe tomaria esse mate. 33. ... gxh4 34.Bf4 Dd1+ 35. De1 Dxb3 36. Dc1 Dd3+ 37. Rg1 h3 Victor abre a posição do rei adversário para explorar as fracas casas brancas em sua redondeza - uma bela estratégia para fazer seu adversário buscar por lances defensivos com pouco tempo no relógio. 38. gxh3 Bh6 39. Bxh6 Rxh6 40. a4

Cg5 41. Rg2 De2 42. Cf4 Df3+ 43. Rg1 Cxh3+ 44. Cxh3 Dxh3 45. a5 Dd7 46. a6 Da4 47. Db1 Dxa6 48. Dxe4 Dg6+ 49. Dxg6+ Rxg6 Um final muito instrutivo aparece sobre o tabuleiro.

50. Rg2 Rf5

Jogam as brancas e empatam.

51. Rg3 Aqui o Felipe deixa escapar a sua última chance de empatar a partida. Se 51. Rg3 perde, qual seria então o melhor lance? deixe sua idéia e seu lance nos comentários. 51. ... Re4 52. Rh4 Rf3 53. Rxh5 Rxf2 54. e4 Re3 55. e5 Re4 56. e6 fxe6 57. Rg5 Rd4 58. Rf6 Rxc4 59. Rxe6 Rb3 0-1


sábado, 7 de maio de 2011

Circuito Gaúcho de Xadrez Rápido - Dois Irmãos

Sempre achei chata essa história de postar sobre um torneio com o atraso de uma semana (às vezes até mais), no entanto dessa vez foi muito boa essa demora, pois aproveitei para refletir melhor sobre o muito que tem se falado por aí a respeito dos rumos do Xadrez Gaúcho. Parece que mais uma vez a cisão toma o lugar da união e o xadrez se divide em dois lados que permanecem antagônicos. A FGX não reconhece o MXC porque não é um clube filiado à entidade - o MXC não reconhece a FGX pois cresceu em importância como alternativa para os enxadristas, além de a FGX não ser uma entidade reconhecida pela CBX... e por aí vai. Não tenho conhecimento dos pormenores da questão, mas sei que nessa história de mocinhos e vilões a única vítima é o xadrez.

O torneio em Dois Irmãos se realizou coincidentemente no mesmo fim de semana do torneio do MXC. A primeira vista sem razão que explicasse tal atitude, já que o calendário do Xadrez Gaúcho está com muitas datas disponíveis e o MXC tem as datas das etapas de seu Circuito a muito tempo divulgadas. Como isso me perturbava muito (não só a mim acredito, mas a todos os enxadristas - já que há carência em torneios seria terrível dois realizados na mesma data) fui então conversar a respeito com o Presidente da FGX Maikon Diel. Ele me respondeu que teve que remanejar diversas vezes a data e no final não teve outra saída a não ser escolher o dia 31 de maio para I etapa do circuito gaúcho de xadrez rápido, pois o evento contava com o apoio da Prefeitura de Dois Irmãos e nesse fim de semana estaria acontecendo diversos eventos na cidade em razão do dia do trabalho. Essa explicação, que nesse caso na minha opinião é necessária, não foi dada publicamente pela FGX, nem mesmo quando indagada pelo enxadrista Iuri Pasini no grupo Xadrez Gaúcho do yahoo.

É inegável o excelente trabalho realizado no MXC e a FGX mostra que tem plenas condições de retomar a posição perdida pela péssima gestão anterior e reconquistar a confiança dos enxadristas. O negócio agora para ambas as partes é continuar trabalhando, se não juntos, pelo menos unidos pelo melhor do xadrez. De minha parte continuarei coloborando no que está ao meu alcance - jogando os torneios e divulgando o nosso nobre esporte-arte.

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Agora falando do torneio. Não conhecia o enxadrista paulista Marcelo Burgos 2193 FIDE, campeão do torneio. Infelizmente não tive a oportunidade de jogar contra ele, mas pareceu ter um jogo muito consistente, empatando com um dos melhores enxadristas gaúchos Eduardo Munoa. No torneio fui surpreendido por um guri sub-14 de Vacaria, Dimitri Boeira, contra o qual tive que suar pra empatar depois de eu ter saído um pouco mal da abertura. Joguei também contra o Antônio Costa Curta que está a cada torneio jogando melhor, se ele tiver uma boa orientação técnica e dedicação ainda pode ir muito longe. Costa Curta jogou uma índia do Rei, mas não conseguiu levar adiante o ataque na ala do rei e eu após aliviar um pouco a tensão, pude levar adiante o ataque na ala da dama e vencer a partida.


Da esquerda para a direita:
Leonel Dorneles, Elisandro Pimenta, Antônio Costa Curta e Alencar Santos

Empatei novamente com Eduardo Munoa numa partida intrigante para mim O Munoa jogou uma Holandesa e acredito que com uma idéia bastante equivocada. Eu não consegui aproveitar as oportunidades e acabei entrando num meio jogo inferior, mas consegui segurar a posição.



Terminei o torneio em 5º lugar com 5 pontos, empatado de 2º a 7º com 6 enxadristas. Uma grande falha dos organizadores foi a não divulgação do CrossTable do torneio - fiquei frustado quando fui procurar. Todos sabem que é sempre de fundamental importância essa divulgação e não é nem preciso explicar por quê.

Informações sobre o torneio e fotos: Site da FGX


É isso aí pessoal. Sintam-se à vontade para comentar, criticar ou dar alguma sugestão.

Abraços e até o V Cultura Open dia 21!



quinta-feira, 5 de maio de 2011

Exercício IV

A posição abaixo ocorreu em uma linha de análise da partida jogada entre Marcio Bidigarai e Iuri Pasine na II etapa do circuito Oncosino de Xadrez realizado pelo Métropole Xadrez Clube. Ela é interessante no sentido em que nos faz pensar o quanto é tênue a linha entre o sucesso e o fracasso numa partida de xadrez, principalmente em torneios competitivos como esse no qual a pressão do tempo e a tensão da partida têm influência fundamental nas escolhas dos lances decisivos de cada jogador.

Márcio Bidigarai x Iuri Pasini
Metrópole Xadrez Clube, 2010

Já utilizei essa posição em duas aulas diferentes e foram muito produtivas. Jogam as brancas - a proposta é que o leitor interessado deixe suas idéias nos comentários, não necessariamente variantes, embora o ideal seja que a idéia venha acompanhada de uma possível variante que a coloque em teste.

Exercícios I, II, III