terça-feira, 21 de dezembro de 2010

II Torneio Aberto Cidade de dois Irmãos - 5º Lugar


E por fim o último torneio do ano! E como não poderia deixar de ser pelo clima natalino, o torneio foi realizado ao lado de uma gigantesca árvore de natal. Deve ser muito mais bonita à noite, quando iluminada.




O Torneio novamente foi muito bom e muito bem organizado. O pessoal de Dois Irmãos se esforça muito pra oferecer um excelente torneio e com premiação em dinheiro pra atrair jogadores das cidades vizinhas. Creio que a maioria dos jogadores de fora vieram de Porto Alegre - Eu, Natan, Guilherme Teixeira, Felipe Menna Barreto, Eduardo Munoa, Orguim e Wagner Pessopani. Uma verdadeira caravana, sempre prestigiando os torneios da região de olhos atentos para as primeiras colocações. Acredito que esse intercâmbio enxadrístico é sobretudo muito importante para a criançada que joga em Dois Irmãos. Jogando com jogadores fortes, vindos de fora, elas podem testar suas forças, aprender mais e assim ter maiores possibilidades de evoluir.


Alencar Nascimento x Antônio Costa Curta
Alencar empatou com Felipe M. Barreto na terceira rodada do torneio

O torneio para mim estava indo muito bem, até o Munoa aparecer pela frente na quarta rodada. Como já virou rotina, peguei ele novamente de pretas. Ele jogou uma espécie de ataque na minoria, trocando de plano no meio do caminho e voltando a ele novamente porque a estrutura exigia. No entanto, um cavalo meu bem situado em d6 parava qualquer plano do branco ali. Sem poder jogar b5, acredito que a posição do preto é até levemente superior. Mas lance vai, lance vem, eu acabei deslocando o meu cavalo de d6 e permitindo o fortíssimo b5 que me deixa com a estrutura quebrada na ala da dama. Consegui forçar f3 por parte do meu adversário deixando ele também com uma importante debilidade em e3 que deixa a partida teoricamente com chances iguais. Depois de algumas trocas chegamos a um final completamente balanceado, como se é possível ver na foto abaixo. Nos apuros de tempo, na bateção de peça usual para uma partida de 15x15, cometi alguns erros e com o jogo sempre preciso do meu adversário, não tive outra opção se não deitar meu rei.


Eduardo Munoa x Eider Cruz
Dois Irmãos, Dezembro 2010

Na quinta rodada joguei com o Orguim. Joguei novamente uma catalã e fiquei com um excelente posição. Após eu ter conseguido avançar suficientemete meu peão de "a" sem nenhuma resistência, fazendo um bom estrago na maioria do meu adversário na ala da dama e algumas manobras esquisitas do cavalo negro, fiquei com uma posição praticamente vencedora. Mas era preciso encontrar logo o plano da vitória, porque se meu adversário conseguisse se aliviar da encrenca que tinha se metido, suas possibilidades poderiam se tornar boas com um lance como "c5", ativando o cavalo e as demais peças. Embora a atividade dos meus bispos provavelmente continuaria sendo decisica. A posição crítica creio que tenha sido a seguinte:


Eider Cruz x João Carlos Orguim
Nessa posição a vantagem branca parece ser clara: melhor estrutura, peças melhores colocadas (vide cavalo preto em a6), rei melhor protegido. No entanto as coisas não me parecem tão simples assim (ou são e sou eu que complico demais). O lance que escolhi para iniciar o ataque foi 1. d5 a idéia é jogar Td4 pra colocar imediatamente apuros ao rei adversário pela eminência do sacrifício Dxh6+ seguido de Th4 mate. 1. ... Te8! Um lance bastante lógico e bom. Já coloca a minha idéia de Td4 fora de cogitação e tenho que procurar uma casa para minha dama. Primeiramente pensei em Dd4 para colocar pressão na diagonal, mas depois de cxd5, não consegui enxergar nada de concreto. Foi então que me veio 2. d6 em mente que cria pelo menos um peão passado muito forte. Mas a idéia principal era colocar problemas para o bispo de d7 que ficaria indefeso após a troca indireta de damas. 2. ... Txe3 3. dxc7 Te6 (forçado) 4. Bd8 Tirando o bispo do ataque, defendendo o peão de c7 e mantendo o bispo de d7 sobre pressão. 4. ... Be8 5. Bh3 f5 (forçado de novo) 6. Te1! O cerne da questão. 6. ... Txe1 7. Txe1 Cxc7? Perde uma peça de imediato, facilitando a tarefa das brancas. 7. ... Bf7 ofereceria maior resistência e os lances vencedores seriam um pouco mais difíceis de encontrar, por exemplo 8. Te7 Rg8 9. g4 Rf8 10. gxf5 e se 10. ... Cxc7 então fxg6, também ganhando uma peça.

Obs: essas análises foram feitas sem ajuda de nenhum engine, portanto se houver algum lance que o leitor ache melhor ou alguma análise errônea, por favor deixe um comentário.

A partida estava se encaminhando para uma vitória tranquila, até chegar a seguinte posição com mate inevitável e a partida tomar rumos inesperados.


Eider Cruz x João Carlos Orguim

Nessa posição o lance cabia às negras que, no desespero da eminência do mate, jogaram 1. ... Te2 entregando sua própria torre para evitar o mate. No entanto, eu já tinha fotografado o mate e não tinha percebido o lance do meu adversário na velocidade dos segundos finais( o Orguim tinha uns 5 segundos e eu uns 12). Joguei imediatamente 2. Th2+?? meu adversário não teve dúvidas 2. ... Txh2 nesse momento eu parei o relógio e chamei o árbitro Marcelo Konrath alegando lance impossível. Rapidamente ficou provado que eu tive uma ilusão de ótica e que o lance era possível. O árbitro me deu, acertadamente na minha opinião, apenas uma advertência por ter parado o relógio e reclamado indevidamente, sobre protestos do meu adversário que queria uma punição mais severa. No fim, o Orguim teve que sacrificar a torre pelo meu peão para não perder no tempo e a partida terminou empatada. Conclusão que eu tiro dessa partida (e de outras que tenho jogado nos últimos tempos, desde a Semifinal do Campeonato Brasileiro): Quando eu estou com uma posição tecnicamente ganha, eu sou um perigo para mim mesmo.


Eider Cruz x Orguim
Dois Irmãos, dezembro 2010


Na sexta rodada joguei com o Felipe Menna Barreto. Estava sem cabeça para o jogo e acabei perdendo sem oferecer muita resistência. Na última rodada joguei contra José Pedro Costa Curta que aos oito anos de idade já tá dando trabalho para muito marmanjo. Uma grande promessa do xadrez gaúcho.

E por fim, foto com os premiados da categoria absoluta juntamente com o árbitro do torneio:



Maiores informações, resultados completos, cross table e mais fotos:

É isso ae, amigos!
Tenham todos um feliz natal com muita paz no coração.
=]


sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Campeonato Aberto e Torneio Natalino do Metrópole Xadrez Clube

Mais um ano está chegando ao fim e o xadrez gaúcho vai dando alguns sinais de vida. Pelo que eu pude constar pelo site Xadrez Gaúcho, há torneios constantemente sendo realizados em Santana do Livramento, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Igrejinha e Dois Irmãos. Ou seja, embora nossa federação não exista legalmente, o nosso xadrez não parou as suas atividades.

E dessa vez os enxadristas foram brindados com mais dois excelentes eventos num só fim de semana (04/12 e 05/12), realizado pelo Highlander MXC. Uma pena que eu não achei as fotos do evento para poder ilustrar melhor para os leitores. Assim que eu conseguir algumas fotos com os organizadores, prometo postar aqui.

O torneio que se realizou no sábado foi em vários ritmos de jogo e o campeão foi Eduardo Munoa, empatado com o Peruano Jonathan de la Cruz. A minha participação foi mediana até boa parte do torneio, mas com 2 empates e duas derrotas não há torneio que se salve. No fim acabei ficando em nono lugar dentre os 34 participantes do torneio.

Uma das minhas derrotas foi para o Dayan. Joguei bem a abertura e entrei com certa vantagem no meio jogo. Quando iria começar a fase das manobras para tentar converter a vantagem eu joguei o 28. Dd3 seguido de bxc4 que perdem imediatamente.




O torneio do domingo foi um blitz em 13 rodadas, no qual participaram 23 jogadores, dentre ele o MF Luiz Ney Menna Barreto (2313) que ficou em segundo lugar, atrás apenas do campeão Vitor Hugo Ferreira. Eu acabei ficando em sétimo lugar com 7 vitórias, 1 empate e 5 derrotas. Apesar das 7 derrotas, foi um excelente fim de semana de xadrez. Depois dos eventos ainda fomos tomar umas cervejas, Guilherme Genro (um jogador tático aguerrido, André Gazola (um posicional agressivo) e eu (um simples mortal).

Amanhã, dia 19, teremos mais um evento na Cidade de Dois Irmãos. E eu estarei lá novamente, peleando ponto a ponto para defender o meu título.


quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Exercício III

Olá, enxadristas!

Mais um semestre se foi na faculdade e para celebrar comecei a ler o livro El Ajedrez de Torneo, no qual Brostein analisa todas as partidas do torneio de candidatos de 1953. O livro é muito interessante porque não nos apresenta aquelas infinitas análises e variantes como se fossemos máquinas, mas sim vai apresentando as idéias inerentes em cada posição, além das peculiaridades psicológicas inevitáveis em qualquer torneio de xadrez.

Folheando as páginas encontrei a posição abaixo na partida Stahlberg x Boleslavsky pela primeira rodada do torneio. Os jogadores acordaram empate após 1. Ce8+ Rg8 2. Cf6+ Rg7 3. Ch5+ Rg6 4. g4 Cc5. No entanto, a partir do diagrama apresentado, as brancas tem uma continuação que as deixa com vantagem decisiva. Não é nada fácil de encontrar, acredito que seja daquelas variantes inumanas. Mas em todo o caso lanço o desafio para os amigos. Dentro de alguns dias eu mostro a resposta. Deixem suas sugestões nos comentários e nada de Engines!

Jogam as brancas
Qual a melhor continuação?
Tema - Zug


Stahlberg x Boleslavsky
Torneio de Candidatos, 1953

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Torneio DC Navegantes no Correio do Povo

Nessa segunda-feira, dia 29 de novembro de 2010, foi publicada uma nota no Correio do Povo sobre o Torneio Aberto do DC shopping o que ressalta ainda mais o sucesso do evento. Para a minha surpresa , eu apareço em primeiro plano jogando contra Vinicius Eltz na foto ilustrativa. Ao Lado aparece João Carlos Orguim e ao fundo Guilherme Teixeira observando as partidas.



quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Márcio Dornelles x Eider Cruz - Torneio Aberto da AABB



Análises e comentários por Márcio Dornelles



1.d4 Cf6 2.c4 g6 3.Cc3 d5 4.cxd5 Cxd5 5.e4 Cxc3 6.bxc3 Bg7 7.Be3
O lance textual foi utilizado por Karpov no match pelo título mundial de 1990. Uma opção mais popular é 7.Bc4. 7...c5 8.Dd2 Da5 9.Td1?! A variante crítica nessa posição é 9.Tb1 cxd4 10.cxd4 Dxd2+ 11.Rxd2. Outra possibilidade é Da5 9.Tc1 0–0 10.Cf3. O lance jogado é menos ativo e a prática tem demons
trado não ser esta a melhor posição para a TD. De toda forma, a retirada da Ta1, bem como o movimento Dd2, visam facilitar o futuro avanço d5, temático para o branco na Grunfeld. 9...0–0 10.Cf3 Bg4 Típica cravada da Defesa Grunfeld. Nessa posição o branco detém um forte par de peões centrais que, entretanto, é objeto de forte pressão por parte do preto através da diagonal a1–h8, coluna d, Cc6, Da5 e Bg4. Típica cravada da Defesa Grunfeld. Nessa posição o branco detém um forte par de peões centrais que, entretanto, é objeto de forte pressão por parte do preto através da diagonal a1–h8, coluna d, Cc6, Da5 e Bg4. 11.Be2 Td8 Nessa posição foi jogado 12- 0–0 Cc6 13 Db2 cxd4 14 cxd4 Td7 na partida Yugina (2032)-Danin (2420)- Memorial Tchigorin, 2004, com equilíbrio. 12.h3? Após 12... Bxf3 13 Bxf3 Cc6 14 0–0 cxd4 15 cxd4 16 Dxd2 Txd2 17 Bxd4 o peão central branco cai. 12...Be6? 13.0–0!?


O sacrifício do peão a2 tem sido utilizado como uma alternativa para o branco obter um jogo mais ativo na Grunfeld. Em troca do material o branco obtém uma larga iniciativa. No post mortem examinou-se a possibilidade 13.c4, com a idéia de seguir d5, que parece oferecer boas possibilidades para o branco após 13... Dxd2 14 Txd2 cxd4 15 Cxd4 Bd7 16-O-O. Entretanto, na análise caseira Fritz 12 apontou 13... Da3, um lance verdadeiramente inesperado que oferece importantes problemas ao branco, explorando a força do BR negro na longa diagonal. Uma possível variante: 14 Dc2 cxd4 15 Cxd4 Bxd4 16 Txd4 Cc6 17 Txd8 Txd8 18 0–0 Cd4 19 Bxd4 Txd4 20 Td1 Txd1 21 Bxd1, e o preto tem um final melhor, pela melhor estrutura de peões e atividade das peças. 13...cxd4 14.cxd4 Dxa2 15.d5 Dxd2 16.Txd2 Bc8

Essa posição é muito importante, porque nesse momento o branco deve escolher o plano que norteará suas ações no meio-jogo. Inicialmente pensei em ativar minhas torres impedindo qualquer avanço dos peões pretos na ala da dama, o que parece ser uma ideia. Ocorre que isso é insuficiente, o branco deveria também resolver a questão dos peões centrais, que em breve, como se verá, serão alvos de contra-ataque. Enquanto isso o preto deverá se preocupar com o seu desenvolvimento atrasado, ao mesmo tempo em que impede o avanço dos peões centrais.

17.Ta2 a6 18.Tc1 Cd7 19.Tc7 Essa penetração na sétima fila se mostrou inócua. Melhor seria reforçar a pressão na coluna c com 19 Tcc2. 19...Rf8 Não havia necessidade de defender o peão de e7, já que após 19... Cf6 20 Txe7 Bf8 21 Tc7 Cxe4 e o branco terá dificuldades para defender d5. 20.Cd4 A idéia desse lance era possibilitar um futuro f4, centralizar o cavalo e reduzir o alcance do BR preto na longa diagonal. 20. ... Be5 Obrigando a torre branca a voltar para casa de mãos vazias. Agora depois de Cf6 o branco terá dificuldades em mobilizar seu centro. Aos poucos Eider ativa suas peças.) 21.Tc1 Cf6 22.Cf3 Fritz aponta este lance também. A opção era Bd3 defendendo imediatamente o peão de e4 e projetando um futuro f4. A idéia do lance é simplesmente afastar o bloqueador Be5, ao mesmo tempo em que dificulta a ligação entre as torres.

22. ... Bb8 23.Bb6 Momento crítico. Esse lance era muito tentador, bloqueia os peões negros com ganho de tempo em cima da torre. Entretanto, e isso fará a diferença na posição, permite que o BR negro volte ao jogo ao ocupar a diagonal c1–h6. O simples 23-Bd3 daria bom jogo ao branco após 23... Bd7 24- Tb1 b5 25 Tca1 Tc8 e agora 26 Txa6 recupera o peão. 23...Te8 24.Tac2? Ponto de inflexão no jogo. A torre estava melhor colocada na coluna a. A alternativa era jogar 24 Bd3 ao que poderia seguir Bd7 25 Bd4 Tc8 26 Tb1 pressionando os peões da ala da dama. O branco não aproveita sua vantagem espacial, de caráter temporário, e aos poucos o preto resolve seus problemas de desenvolvimento. 24...Bd7 25.Bd3 Bf4 26.Tb1 O jogo mudou totalmente. As peças pretas agora estão ativas e há um peão de vantagem. 26...Tec8 27.Tcb2 Tc3! Iniciando a penetração pela coluna c e aproveitando a situação indefesa do Bd3. 28.Ce1 Tac8 29.Bd4 Tc1 30.Txb7? Já no apuro de tempo, o branco comete um erro grave. Era necessário jogar g3 e Rg2 livrando-se da incomoda cravada do Ce1. 30...Bb5! Aproveitando-se do erro anterior



31.Txc1 Txc1 32.Bxb5 axb5 33. Rf1 Bd2? O lance mais lógico, mas que permite que as brancas pelo menos igualem a partida. No entanto, 33. ... Cxe4 34. Re2 Cd6 mantem todas as vantagens da posição negra. 34. Re2 Bxe1 35. e5?? 35. d6!! colocaria o branco de volta no jogo 35. ... Cxd5 36. e6. fxe6 0–1