domingo, 27 de março de 2011

Torneio Soeral

Iniciou semana passada mais um torneio organizado pelo clube Soeral (Sociedade Esportiva Recanto da Alegria) com o tempo de reflexão 1h x 1h, sendo jogada no mínimo uma partida por semana. Para quem não sabe o clube Soeral está localizado no Parque da redenção ao lado do parquinho de diversões bem em frente de onde ocorre todos os domingos o Brique. Ali o pessoal se reúne (principalmente o pessoal da terceira idade) para jogar bocha, carta, dominó, gamão, damas e Xadrez. O grande diferencial do clube é que fica ao ar livre, rodeado por árvores e há muitos lugares para estacionar nas redondezas do parque. Eu frequento o clube desde meus primeiros anos de xadrez e foi ali que desenvolvi meu jogo. Hoje em dia, já que trabalho bem ao lado da redenção, eu frequento o clube nos finais de tarde mais para bater um papo com os amigos e tomar um cafezinho do que para jogar.

O torneio desse ano conta com a participação de 24 jogadores, divididos em duas categorias - A e B. Na categoria A estão jogando Jorge Santos, Vinícius Budde, Comeli, Rodolfo Perondi, Guilherme Teixeira, Leandro Castro, Alex, Inácio, Jaer, Sérgio Sardi, Eider Cruz e Paulo Luz.

Joguei a primeira rodada contra Paulo Luz e obtive minha primeira vitória. A medida que eu for jogando minhas partidas eu as publicarei aqui mesmo nesse post.

1ª rodada



2º rodada


No torneio do ano passado, que não pude jogar, surgiu a seguinte posição na partida Filippon x Gilberto Lopes a qual deixo aqui como problema para os leitores resolverem. Fiquem à vontade para colocar suas sugestões nos comentários:

Jogam as pretas e ganham

Nelson Filippon x Gilberto Lopez

É isso aí, pessoal!
O próximo post será sobre o excelente torneio do Mercado Público.

domingo, 13 de março de 2011

Eider Cruz x MF Bolivar Gonzales - Semifinal do Brasileiro 2010


Essa partida aconteceu na quarta rodada do torneio. Eu vinha de dois empates bem pobres nas duas primeiras rodadas e uma boa vitória na terceira rodada contra o enxadrista goiano Marceley. Seria a segunda vez que eu enfrentaria um MF em torneios FIDE. A primeira foi contra o MF Fabiano Prates no Regional Sul de 2008 e terminou com resultado positivo para mim. Estava bastante confiante para essa partida e o MF Bolivar acabou jogando exatamente uma variante que eu esperava, já que eu tinha visto algumas partidas dele no meu banco de dados. Perdi a partida, mas mesmo assim, apesar de um grave erro no lance 24 e outros decisivos já no apuro de tempo, acredito ser uma partida muito boa pra ser bem revisada para se tirar o maior número de lições possíveis. "Aprende-se mais em 1 partida perdida do que em 100 ganhas." Já dizia o genial enxadrista cubano campeão do mundo José Raul Capablanca. Comecemos.

1.d4 Cf6 2.c4 c5 3.d5

Concentração ao iniciar a partida.

3...b5 4.cxb5 a6 5.b6 A principal alternativa é 5. axb6 que pode levar a linhas tais como 5. ...Bxa6 6. Cc3 d6 7. e4 Bxf1 8. Rxf1 g6 9. g3 Bg7 10. Rg2 0–0 e as pretas têm pelo peão as linhas abertas para o ataque com as peças pesadas na ala da dama com o auxílio do bispão em g7. Não queria ter que procurar lances defensivos, por isso achei por bem escolher 5. b6 que devolve o peão, mas oferece uma partida mais tranquila e com boas possibilidades a longo prazo.

5...Dxb6 6.Cc3 d6 7.e4 g6 8.Cf3 Cbd7 9.a4 Bg7 10.a5 Db7 Mais comum é dar lugar para atividade com a torre pela coluna com Da7 ou Dc7. Esse último ainda mantém um olho atento para a casa e5. 11.Be2 0–0 12.0–0 Ce8 O cavalo dá início a uma bela peregrinação de f6 à d4. 13.Ta3 Tb8 14.Cd2 Cc7 15.Cc4 Da7 Corrigindo o pequeno equivoco. 16.Bg5 Te8 17.Tb3 Calculei que a torre de meu adversário em b8 era mais importante do que a minha em a3.

17...Cb5 18.f4 Cd4 19.Txb8 Dxb8 20.Te1 Era necessário 20. Bd3 porque agora 20. Cxe2 é muito forte. Por exemplo, 21. Dxe2 Bd4+ 22. Rh1 Bb7 e o avanço e5 se torna dificílimo de ser efetuado. 20...Db4?! 21.Bf1 h6 22.Bh4 Cb3 23.e5 Normalmente no Gambito Benko e5 é o sonho de consumo das brancas. 23. ... dxe5

24.Te4? Um lance muito ruim que coloca por água abaixo todo o trabalho bem feito na abertura. Claro que não é possível agora 24. fxe5 por 24. ... Cxe5, explorando o indefeso bispo em h4. No entanto, 24. d6 é um lance que garante uma partida com perspectivas muito boas para as brancas. A primeira ameaça é o assustador 25. Cd5, o que praticamente obriga o preto a jogar 24. ... e6 e após 25. Ca2 Db8 26. fxe5 as brancas estão com clara vantagem. Uma tentativa de melhorar o jogo do preto é a seguinte linha de sacrifício 25. ... Db5 26. Cb6 Dxa5 27. Cxd7 Bxd7 28. Dxb3 exf4 - com uma luta muito difícil pela frente para o preto, apesar dos 3 peões pela peça.

24...f5 Aproveitando de pronto o fraco 24°| lance das brancas. 25.Cd6 A melhor alternativa. A idéia é de complicar a partida por meios táticos. 25...fxe4 26.Nxe8 exf4 27.Bxe7?! Justo agora! 27. Dg4 retomava as rédeas das partidas e as pretas teriam que ter muito cuidado para encontrar os melhores lances defensivos, embora my dear friend Fritz 11, após um bom tempo rodando, dê 0.00 para essa posição. Mas é claro, no nível da realidade a batalha não é nada fácil. Meu adversário logo ao término da partida sugeriu esse forte lance e eu concordei com ele que talvez realmente fosse melhor. Na verdade eu gastei algum tempo analisando essa possibilidade, mas mesmo assim decidi arriscar minhas chances num final complicado de peças menores e rechacei a idéia de manter as damas na partida e entrar na agudeza de um ataque direto ao rei. A primeira linha forçada de empate que surge após 27. Dg4 é a seguinte: 27. ... Cd2 28. De6+ Rh8 29. Cxg7 Dxb2 30. Dxg6 Dc1 31. Dxh6+ Rg8 32. De6+ com xeque perpétuo. Talvez a dificuldade defensiva das pretas seja a defesa através do contra-ataque e não do socorro direto ao rei em apuros. Mas acertando esses lances as pretas asseguram de vez o empate. 27. Bxe7 deixa a partida em aberto com melhor jogo para o preto.

27...Qd4+ 28.Qxd4 Bxd4+ 29.Kh1 Nd2 30.Be2 Ne5?! É natural que as pretas queiram colocar suas peças menores para jogar, já que as brancas estão ameaçando inclusive 31. Cd6. Mas o imediato 30. ... f3 deixa as pretas com uma mão no ponto. Por exemplo, 31. gxf3 exf3 32. Bxf3 Rf7 33. Cd6+ Rxe7 34. Cxc8+ Rd8 – ganhando peça. Agora as brancas estão de volta na partida 31.Cd6 Bf5 32.Bxa6 f3 33.gxf3 exf3 34.Cxf5 gxf5

Uma posição plasticamente bonita.

Os peões de “a” e o de “d” parecem assustadores, enquanto o de “f” das pretas parece facilmente parável. Com essa reflexão eu senti que minhas possibilidades na partida tinham crescido muito e por isso já pensei em lances que acelerassem o avanço de meus peões passados, me descuidando dessa forma do ganhador avanço do peão f do meu adversário. 35.Bb5? o primeiro grande erro. Eram necessários os profiláticos 35. Cd1 seguido de 36. Bh4 35...c4! Lógico. Cortando a diagonal f1-a6 e preparando o decisivo f2. 36.Bf6?? Quanta inocência! Agora já não há mais salvação. 46. Cd1 ainda manteria as brancas com algumas possibilidades mesmo com peça a menos, tamanho o poder dos peões passados brancos combinados com o par de bispos. 46.f2 0–1



É isso aí pessoal. Estou ainda tentando achar um modo de oferecer a opção de baixar um arquivo PGN da partida aqui no blog. Assim que eu, com o perdão da ignorância, descobrir como se faz, posto em todas as partidas já analisadas. Se alguém tiver alguma dica, por favor não deixe de se pronunciar. E por fim, deixo Riders on the storm para apreciação dos leitores, já que essa partida foi revista do início ao fim, ao excelente som de The Doors.