segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

III Copa das Nações - Santana do Livramento


No dias 17 e 18 desse mês tive a oportunidade de, mais uma vez representando o IXC, jogar um grande torneio. Sem dúvidas o mais forte torneio que ocorreu nesse ano no Estado. O torneio que teve apoio da FUNDERGS (Fundação de Esporte e Lazer do RS), além de não cobrar inscrição, ofereceu hospedagem e alimentação - algo raríssimo em se tratando de xadrez brasileiro. 

Café da manhã em Santana do Livramento
Ao lado o árbitro do torneio e ao fundo o Pelotense Anderson Donay

O evento ocorreu na bilíngue Santana do Livramento e teve a participação de 51 jogadores de diversas nacionalidades que disputaram 15 rodadas de um xadrez duramente competitivo, mas sem grandes problemas para a arbitragem. Dentre os jogadores nada menos do que 9 Mestres Internacionais e 6 Mestres Fide. Os três melhores brasileiros da competição foram Allan Gattass em 6°, Alfeu Bueno em 11º e esse que vos fala que ficou em 15°.

Consegui fazer partidas muito boas contra os mestres contra os quais joguei. Alguns deles me escaparam no detalhe (como sempre) que foi o caso dos MIs Argentinos Pablo Barrionuevo (2336) e Cristian Dolezal (2433), outros jogaram com precisão invejável até que minha posição entrasse em Colapso como no caso de minhas partidas contra o MF Kevin Paveto e o MI Hernan Filgueira. 


Eider Cruz x MI Pablo Barrionuevo
Posição complicada para o MI

Minha melhor partida no torneio foi pela 12ª rodada contra o Bi-campeão Nacional Uruguaio Daniel Izquierdo (1992-2006).  Abaixo disponibilizo a partida para reprodução:


Infelizmente nesse fim de semana de puro xadrez, mais uma vez um torneio importante da FGX foi realizado na mesma data de outro torneio também importante. Mas a isso os jogadores gaúchos parecem que já estão acostumados. 

Gostaria de agradecer imensamente o apoio do IXC em mais essa empreitada em prol do xadrez. 

Maiores informações e demais fotos: 

                                                                                             


quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Robert James Fischer revisitado


É comum de tempo em tempo sair reportagem sobre o lendário enxadrista Estadunidense Bobby Fischer em diversos veículos de comunicação. Não é para menos, pois a revolução que ele causou no mundo do xadrez é digna de ser lembrada, estudada e louvada sem sombra de dúvidas. Dessa vez a reportagem que saiu no jornal on-line britânico TheGuardian foi a respeito de uma entrevista feita com o atual campeão mundial, o indiano Vishwanatan Anand, na qual ele declara ter se encontrado com Fischer em 2006. Alguns detalhes do relato de Anand me perturbam desde que eu comecei a ler sobre a biografia do Grande Mestre que no início da década de 70 mudou o rumo dos acontecimentos do xadrez mundial. Pretendo nesse post comentar sobre alguns desses detalhes que na minha opinião fazem toda a diferença quando discutimos a repeito de Robert James Fischer.

Na primeira frase da entrevista Anand diz: " eu encontrei Bobby Fischer surpreendentemente normal e calmo". Baseado em décadas de um discurso preconceituoso a respeito da personalidade de Fischer, Anand esperava encontrar uma pessoa louca e descontrolada. Sabemos que a mídia enxadrística vem reproduzindo sempre a mesma coisa desde a década de setenta: excêntrico, maniático, esquizofrênico, paranóico e coisas mais nessa mesma linha de raciocínio. E conceituando-o dessa maneira tão veementemente e por tanto tempo acabou-se criando um senso comum muito forte na imagem desse gênio. O resultado é que não vemos mais os fatos com os nossos olhos e sim a partir de um discurso pre-estabelecido. Discurso esse que tem uma finalidade muito específica: silenciar a perigosa visão de mundo do maior jogador de xadrez de todos os tempos.



Perigosa pra quem? essa pergunta é muito ingênua pra ser respondida secamente. Mas lembramos que o auge do gênio em questão coincide com o auge da guerra fria onde tudo era uma questão de ponto de vista, de posicionamento e que as opiniões eram formadas a seu respeito levando-se em conta o lado em que se estava na luta política. Fischer, inevitavelmente, levava consigo o peso de sua nacionalidade para onde quer que fosse e era símbolo de uma ideologia capitalista anticomunista pautada pelo individualismo exacerbado. Portanto, podemos dizer sem medo de errar que ele não era visto com bons olhos pelo lado socialista do mundo - e, como sabemos, a nação ícone do socialismo era a união soviética que, por sua vez, dominava o cenário do xadrez mundial. Korchnoi, Petrosian, Spassky, Tal, são apenas alguns das dezenas de nomes que podem ser citados.

Como o xadrez acabou se tornando mais uma extensão da intensa luta política entre duas ideologias antagônicas que apenas se aproximavam em seus paradoxos, não era interessante para a URSS um herói norte-americano, sobretudo se esse herói fosse carismático. E Fischer em 1962 teve um dos seus maiores sucessos em sua curta trajetória no xadrez: ele venceu o Interzonal de Estocolmo com 2,5 de vantagem sobre os seus maiores rivais soviéticos, finalizando com 80% de aproveitamento e sem ter sofrido uma derrota sequer. Segundo Korchnoi nos conta em sua autobiografia intitulada no castelhano El ajedrez es mi vida... y algo más a imprensa soviética tinha grande influência sobre os meios de comunicação, ainda mais quando se tratava de xadrez e foi desde então que começou a campanha de difamação da personalidade de Bobby Fischer.

"Fischer comenzó a ser criticado en todo el mundo del ajedrez como una persona que se comportaba de forma inapropriada, causaba escándalos y violaba las reglas elementales de conducta, provocando innumerables problemas en los torneos tanto a los organizadores como a los participantes". (P.52)      

No entanto, Korchnoi na sequencia de seu relato, diz que pelo que ele recorda pouquíssimos jogadores tinham do que reclamar de Fischer, pois sua conduta diante do tabuleiro era impecável e que suas "chatices" em relação aos organizadores contribuiram de forma decisiva para a profissionalização do xadrez. Mas nesse momento os problemas com a imprensa e com a construção do discurso do senso-comum dos enxadristas pelo mundo todo tinha em contrapartida os meios de comunicação ocidentais que prestigiavam Bobby e faziam uso de sua imagem como propaganda política Estadunidense. Até então tudo ocorria bem para Fischer, pois era assim mesmo que funcionava o jogo de opostos na guerra fria - mal falado lá, bem falado aqui, não havia como ser diferente.

É quando as idéias políticas de Fischer começam a se tornar mais complexas e perigosas também para o ocidente que seus reais problemas com seu posicionamento perante as coisas do mundo iniciam. No entender dele os paradoxos da sociedade capitalista se tornam tão nocivos quanto os paradoxos da sociedade socialista. A "ditadura do capital" sustentada e legitimada pela aparente imaculável democracia é tão sanguinária quanto a "ditadura do proletariado" soviética. Tudo se mescla, o bem e o mal se fundem no turbilhão de idéias do gênio. Seu anticomunismo acaba se tornando também antimericano e ele solitário abandona tudo. Numa carta de boas vindas ao Ocidente destinada ao dissidente soviético Korchnoi, Fischer chama essas forças de Forças do Mal. Para tentarmos entender melhor essas idéias, abaixo disponibilizo essa carta traduzida por mim ao português:

Pasadena 9 de junho de 1977

Querido Victor, como está você?Fico feliz que as coisas estejam funcionando para você em sua nova vida. Eu vi seu amigo Ives Kraushaar hoje e nós nos demos muito bem. Fico feliz que ele esteja te ajudando a se ajustar à vida do ocidente. Por causa de minha atitude intransigente em relação ao comunismo, eu tive meus problemas, mas assim é a vida. Eu não acredito em comprometimento, acomodação e submissão ao mal. É assim que são todas as coisas. Espero te ver nos Estados Unidos, na Europa ou em qualquer outro lugar logo. 

Tudo de melhor e felicidades para você.

Bobby Fischer

Nessa carta fica claro o seu anticomunismo, mas se pensarmos no que ele diz a respeito de ser contrário ao "comprometimento, acomodação e submissão ao mal" talvez possamos pensar em algo muito mais abrangente. Em 1992 Fischer deliberadamente desobedece o decreto que diz que nenhum cidadão Estadunidense poderia em hipótese alguma entrar num país socialista sem autorização do Estado Americano: sabemos que ele jogou o match revanche comemorativo dos 20 anos de sua vitória pelo título mundial em 1972 contra Spassky na Ioguslavia que era um país de regime socialista. Na ocasião, Fischer cuspiu publicamente num documento oficial do estado americano que o proibia de entrar no país Ioguslavo, demonstrando total negligência com suas leis e com a sua própria cidadania. Essas idéias eram perigosas demais para a manutenção do status quo capitalista. Bobby se identificava com a luta de Victor contra as forças opressoras da ditadura soviética, pois ele mesmo tinha uma luta parecida no ocidente. Era preciso silenciar o seu discurso. Por essa razão a imprensa ocidental também comprou o discurso a respeito de Fischer que já era muito bem conhecido e aceito no leste europeu e começa a insistente reiteração às suas deficiências psicológicas. A idéia que até hoje é estampada em qualquer reportagem que tenha relação a Bobby Fischer é a de desvalorização de seus pensamentos, de seus discursos políticos, taxando-os simplesmente de paranóicos: não há como dar valor para o que um louco fala.

Voltando a entrevista citada no início do texto, Anand influenciado por décadas de prática discusiva sobre Bobby Fischer em Jornais, Revistas, Rádio e Televisão, não consegue ver outra coisa a não ser Bobby preocupado com gente que o esteja seguindo e segundo Anand isso simbolizava que sua paranóia nunca o havia abandonado. Talvez ele estivesse preocupado com jornalistas - apenas isso. 
 
Embora Fischer pudesse ter vivido uma vida muito bem ajustada como campeão mundial, com muito dinheiro e fama, ele escolheu ir para um outro lado na luta política mundial ao não se submeter, ao escolher um lado muito específico em sua ideologia quase anarquista, ao se negar ser marionete no complexo jogo das relações de poder. Num jargão muito bem conhecido pela psicologia podemos concluir que Robert James Fischer era um Desajustado.

Com a palavra Marthin Luther King:


                                                                                                    
Referências


KASPAROV, Garry. Meus Grandes Predecessores V.4. Ed. Solis. Santana de Parnaíba, SP: 2006

KORCHNOI, Viktor. El ajedrez es mi vida.... y algo más. Ed, Chessy. Santa Eulalia de Morcín, ES: 2010

http://www.guardian.co.uk/sport/2011/dec/02/vishy-anand-small-talk-interview

Bobby Fischer tells the truth nothing but the truth

http://www.youtube.com/watch?v=QryuMf8qZ0g Acesso em: 23/12/2011

Bobby Fischer Spits
http://www.youtube.com/watch?v=RjbaSVXUq5c&feature=related Acesso em 23/12/2011

                                                                                                                                                             

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Xadrez na Zero Hora


No dia 04 de dezembro de 2011 saiu na Zero Hora em um caderno especial do Fronteiras do Pensamento distribuído somente para assinantes, uma matéria a respeito da vinda de Kasparov à Porto Alegre. Na reportagem foi ressaltada a importância da prática do xadrez nas escolas como ferramenta auxiliar ideal para o desenvolvimento de competências intelectuais. Na ocasião respondi algumas perguntas feitas pela repórter do Fronteiras Sonia Montaño e pude contribuir um pouco ao que se refere à simultânea no Chalé da Praça XV.

Abaixo está a reportagem escaneada. Acredito que para quem ainda não teve a oportunidade de ler será muito interessante, posto que é fato raro o nosso tão amado xadrez sair em uma página inteira num veículo de comunicação de larga escala.








quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Faça o que eu digo mas não faça o que eu faço - Parte II

Depois da final do Oncosinos e dos Jogos Regionais de Santa Catarina, joguei a semifinal do campeonato gaúcho que para mim até agora é uma incógnita o porque de sua realização, posto que a final do estadual foi um torneio aberto. Talvez o torneio se explique pela disputa pelas 3 vagas na semifinal do Brasileiro. Seja como for, tive a oportunidade de mais uma vez enfrentar o Eduardo Munoa. Nessa ocasião eu tinha absoluta certeza da variante que ele jogaria contra uma índia do rei. Preparei a variante Mar del Plata com o "apoio" de Gligoric. Uma variante aguda, arriscada, em que o preto inicia uma avalanche de peão na ala do rei e o branco um forte ataque na ala da dama. É preciso muita cautela e coragem para ambos os bandos, mas é fato que eu ultimamente tenho arriscado muito mais do que de costume.


Eduardo Munoa 1 x 0 Eider Cruz
Outubro, 2011
- PGN

Infelizmente não tenho foto dessa partida, então ficaremos só com o diagrama. Gosto de pôr fotos sempre que posso, pois elas aproximam o acontecido do acontecimento tornando mais vivo o passado. Acho que nenhum evento de xadrez poderia ficar sem fotos - grande falha do organizador.

O diagrama acima surgiu a partir de 27. Tac1? que é sem sombras de dúvidas um erro, pois permite 27. ... Txc1 28. Dxc1 Dd8 e não há defesa para o peão de b6. Nesse momento eu tive certeza que havia superado meu adversário e no meio jogo havia conseguido melhores chances. Mas no decorrer da partida o Munoa fez lances fortes e enérgicos, enquanto os meus lances denotavam a minha queda de rendimento. É importante notar também como as peças passivas do branco se tornam monstras no arremate da partida. Esse tipo de revolução não se pode nunca permitir.

29. Bb5 Lance ativo que inicia a minha confusão. Não queria de jeito nenhum a ativação desse bispo por isso o lance profilático. 29. ... Te7 ao invés disso era possível diretamente Dxb6 e se Be8 então Tc7. 30. Dc4 Dxb6 31. Dc8+ Cf8 32. Bf1 O branco ficou com medo da ameaça Tc7-Tc1+-Txh1+-Dxf2, mas na verdade com 32.Be8 existe a possibilidade da seguinte linha de empate 32. ... Tc7 33. Df5 Tc1+ 34. Rh2 Txh1 35. Rxh1 Dxf2 36. Bf7+ Rh8 37. Dxh5 Ch7 38. Bg6 e agora não resta mais nada para o preto a não ser dar xeque-perpétuo.

32. ... Tc7 33. Dd8 Rf7 34. Dg5


Jogam as pretas - um plano finíssimo para vitória

Nessa posição as negras tem um plano fino a sua disposição para a vitória. Eu só pensava em esconder o meu rei atrás de minhas peças menores e depois disso ganhar o peão de b e partir para coroação. Mas trazer a torre para a ala do rei resulta muito mais eficiente, pois mantém todas as peças brancas sem jogo e se batento atrás de suas próprias linhas defensivas. Realmente finíssimo: como é bonito o xadrez. 34. ... Bf6 35. Dxh5+ Rg8 e a torre se prepara para entrar em ação, destruindo com as peças estagnadas do meu adversário. 36. Df5 Tf7! O branco está sem lance. 37. Bd3 Be7 38. Dg4+ Tg7 39. Dc8 Th7 40. Dg4+ Rf7 Com um pouco mais te tempo no relógio, ou um pouco mais de xadrez era bastante possível enxergar a trasposição da torre para a ala do rei.

34. ... Tc2? 35. Dxh5+ Re7 36. b4 Txf2 37. Cxf2 e o cavalo entra em jogo depois de sua longa ibernação. 37. ... Dxb4 38. Cg4 Dc5+ ainda estava confiante na vitória mediante o avanço do meu peão passado e não tomei precauções necessários para a segurança do meu rei. 39. Rh2 b5 40. Dg5+ Rf7 41. Dd8 no momento exato meu adversário faz a transferência de ala de sua dama. 41. ... b4 42. Ba6! b3 43. Bc8 Para que se preocupar com um peão passado. Melhor é colocar todas as peças na cara do rei adversário. 43. ... b2?? o erro decisivo Da7 manteria ainda a partida com chances iguais. 44. Be6+ Cxe6 45. dxe6 Rg6 46. e7 1-0 Essa foi a minha derrota mais dolorida desse ano. Mais uma vez o Munoa me escapa.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Faça o que eu digo mas não faça o que eu faço - Parte I

Fim de ano! Festas! Férias! mais tempo para respirar. Não que eu não goste das minhas atividades do dia a dia, mas é que me sobra muito pouco tempo para me dedicar à arte, ao xadrez. E sem arte não há ser humano, isso é fato. Mesmo sem tempo para me dedicar eu digo que se dane e vou jogar, brincar, rir, perder, ganhar: experienciar o mundo através do xadrez já que ele se tornou parte essencial daquilo que me move.

E depois da minha viagem para Xaxim, joguei mais dois torneios bastante importantes e pude ver mais claramente algumas dificuldades técnicas minhas que são em essência (na minha opinião) problemas de formação do meu xadrez. Como nunca tive ninguém que me orientasse tecnicamente desde minha tenra infância enxadristica, sempre fui aprendendo as coisas tomando porrada mesmo. E tem coisas que por mais que eu tome porrada, simplesmente não aprendo (pra minha infelicidade possivelmente a maioria das coisas). Por isso no decorrer de algumas postagens pretendo apresentar 8 posições de partidas minhas jogadas nesse ano nas quais por algum motivo ou outro (ou por puro capivarismo mesmo) acabei não fazendo a escolha de plano mais adequada e não consegui explorar as oportuinidades que me apareceram nessas partidas que julgo estar dentre as minhas mais importantes desse ano.

Como não sou profissional do xadrez, me sinto a vontade para comentar sobre meus pontos fracos. Meu objetivo é compartilhar minhas experiências com meus alunos e todos os demais leitores do meu blog. Se esse material por ventura for usado contra mim em minhas futuras competições, como muitos já vieram me falar, isso muito pouco me importa. Alias, vou ficar até feliz por ter adversários me tornando mais forte ao tentar explorar meus pontos fracos.

A primeira posição que eu quero comentar vem da minha partida contra o Mestre Internacional Sérvio Dragan Stamenkovic. Tive a oportunidade de jogar contra ele na Final do Circuito Oncosinos de Xadrez Clássico.





A posição acima surgiu a partir do 20. Tfd1 por parte do meu adversário. Depois de uma intensa luta na abertura, consegui resolver muitos dos problemas que me foram apresentados. No entanto, me sobraram ainda dois problemas que são perigosos a longo prazo: a fraqueza dos peões de a7 e c5. Em contrapartida a essas fraquezas, consegui situar minhas peças em casas bastante ativas. Meu cavalo que pode causar problemas em f4 e meu bispo controlando a diagonal h1-a8 compensam a debilidade de minha estrutura. As torres dobradas na coluna "d" não me causavam tanta preocupação, pois acreditava que essa vantagem não era assim tão grande já que as outras peças não estão articuladas com esse domínio. Acredito que dá pra se dizer também que a atividade de minhas peças menores compensam a atividade das peças maiores do meu adversário. A partir do diagrama acima colocado, eu poderia ter jogado a seguinte variante que faria da tarefa de vencer do Mestre Internacional um pouco mais complicada: 20. ... Bd5! 21. Dxc5 único 21. ... Tfc8 22. Da3 Txc4 e se não fosse pelas possibilidades táticas do branco nesse momento a posição preta estaria em perfeita armonia. 23. Td1xd5 Txc2 Não exd5 por Txg6+ ganhando a dama. 24. Td1 Tac8 seguido Cf6-d5 e o negro não tem nada a temer.


Ao invés de entrar nessas complicações que senti muitas dificuldades de calcular durante a partida, resolvi jogar um lance mais simples e com efeito mais concreto e imediato: colocar problemas em cima do cavalo de f3. 20. ... Df6 O bonito desse lance também é que ele ativa a dama, centralizando-a. Veja o domínio das diagonais que cortam o tabuleiro que as peças negras possuem. 21. Ce1 Quando se tem que fazer um lance desses numa posição como essa é porque algo não vai bem. Mas não há outra opção: o Mestre Internacional teve que colocar o orgulho de lado e fazer o melhor lance que tinha a sua disposição, mesmo que ele faça doer os olhos a primeira vista. 21. ... Cf4 22. Rf1 apesar desses lances passivos é difícil encontrar alguma maneira de explorá-los de forma eficiente. Resulta que no final das contas o domínio da coluna d segura toda a posição branca. Por esse motivo 20. ... Bd5! recebe um ponto de exclamação, pois coloca em xeque essa soberania das torres ao controlar a importante casa d5. Agora c5 está caindo de maduro e é preciso defendê-lo. 22. ... Tfc8 23. De3 O famoso ditado: não tem o que fazer, melhora a posição das tuas peças. 23. ... g5 o meu plano é inicar uma avalanche de peões ao rei do meu adversário, jogar Rg7, uma das minhas torres por trás da tropa e confiar que atividade de meu cavalo e de meu bispo exerça pressão suficiente na posição do meu adversário - infelizmente o plano não saiu do papel, digo, da cabeça. 24. Td2 Rg7 25. g3 Cg6 26. Cd3 Df3 27. Dxf3 Bxf3 28. h3 h5? o erro que tira todo o orgulho da minha posição, o meu bispo de casas brancas. 29. Bd1 Bxd1 30. Txd1 Embora praticamente seja difícil converter essa posição, a partir desse momento o meu apuro de tempo aliado com as minhas debilidades fizeram com que meu forte adversário conseguisse o ponto depois de uma batalha bastante interessante.

No mesmo torneio, joguei pela última rodada contra o Dr. Antônio Rogério Crespo. Tenho Score francamente positivo na soma de nossos confrontos, mas como se mostrou mais uma vez: os tabus são feitos para serem quebrados. Depois do meu vigésimo lance a seguinte posição foi alcançada:



Não há porque eu não ser sincero: nesse momento eu senti que a fatura já estava liquidada. Mas é sabido, depois que as mãos já estão calejadas, que são esses os momentos mais importantes de uma partida e que não é permitida queda de rendimento, pelo contrário, é preciso estar ainda mais concentrado. Falhei mais uma vez nesse quesito. Tenho uma explicação muito peculiar para isso, quem sabe eu a exponha em alguma futura postagem. Os amigos que se interessarem podem me perguntar pessoalmente.


Ao que se refere à partida, eu tinha motivos muito bons para estar confiante, os pontos de ruptura estão dominados (c5, f6) e há fraquezas latentes nas casas pretas do meu adversário. Mas contra todos os meus prognósticos, Crespo que é conhecido por ser um jogador muito ativo e criativo lança sua ofensiva pelo centro, confiando em criar problemas pelo peão sacrificado a partir da exposição do meu rei. 20 ... c5! é incrível, mas nem sequer tinha calculado a possibilidade desse lance. Os meus subsequentes erros vieram a partir dessa surpresa. Temi de subremaneira 21. dxc5 De6, que coloca pressão imediata na coluna "e" e aparentemente coloca também à mostra as debilidades de meus peões "g3" e "g5". A partir dessa mudança no rumo dos acontecimentos e por consequencia da mudança das características da posição, não enxerguei o simples e vencedor 22. c6 Bxc6 23. Dxc6 Dxc6 24. Cf6 Dxf6 25. gxf6 Tad8 26. Bc6 Ao invés disso joguei 21. d5? e de pronto me vi em sérias dificuldades ao fornecer a casa e5 como trampolim central para as peças do meu adversário. 21. ... c4+ desc. 22. e3 Te5 Ainda consegui no decorrer da partida criar alguns problemas e no final inclusive ainda tive chances reais de vitória, mas acabei sucumbindo mediante um golpe tático já no apuro de tempo.