Enfrentar um Grande Mestre é sempre uma experiência que fica guardada na memória. Saber que o oponente possui o título mais alto do xadrez mundial e que muito provavelmente estará enxergando sempre um lance a sua frente, nos gera ao mesmo tempo um certo temor e orgulho por ter a oportunidade de enfrentar semelhante titã do xadrez internacional.
Com esses pensamentos um tanto turbulentos foi que iniciei minha partida contra o Andrés Rodrigues. Sabia que minhas possibilidades de obter um resultado positivo não eram muito grandes, embora, claro, eu sonhasse com uma vitória espetacular. Durante a partida eu fiquei somente esperando de que lado viria o golpe que me levaria a Knockout. No meu delírio, cheguei a imaginar até mesmo um golpe mortal que meu adversário pudesse realizar a qualquer momento com Cxf5 e colocar meu rei imediatamente em apuros. Mas eram só delírios, o GM Rodrigues escolheu caminhos muito mais seguros do que um sacríficio que poderia até mesmo colocá-lo em situação de risco.
Minhas possibilidades na partida eram muito boas, embora em cima do tabuleiro eu não as enxergasse muito bem, até porque eu imaginava que Rodrigues dominava por completo os fundamentos da posição e que, como já foi dito, estava sempre enxergando um lance na minha frente. Meus lances h5 e c5 foram jogados, acredito, mais em razão dessas considerações do que quaisquer outras. Ficou claro que esses lances tinham por objetivo mais atrapalhar os planos do meu adversário do que explorar os pontos fracos de sua posição, ativando melhor minhas próprias peças. Minha preocupação era de que as peças dele não jogassem e não de colocar as minhas peças em jogo. Triste conclusão que cheguei depois de refletir bastante sobre a partida: entrei no jogo perdido tanto tecnicamente quanto psicologicamente.
1.e4 c6 Aqui já tive que tomar minha primeira decisão. Siciliana ou Caro-Kann. Escolhi a segunda opção por ser mais sólida. 2.d4 d5 Fico sempre apreensivo para saber qual é o próximo lance que as brancas vão escolher. Existem muitas opções 3. exd5, 3. e5, 3. Cc3, 3. f3 ... e cada uma dessas opções leva para um tipo diferente de luta. 3.Cd2 dxe4 4.Cxe4 Bf5 5.Cg3 Bg6 6.Bc4 Sou mais acostumado a enfrentar 6. h4 h6 7. h5 Bh7 8. Bd3. O GM Rodrigues já começa a me levar por um caminho ao qual não tenho muita experiência.
10...Bf5 Um lance estranho, porém justificável psicologicamente e estrategicamente. Jogar 10. ... Bxd3 é praticamente entregar f5 numa bandeja para meu adversário, o que permitiria a ativação de suas peças e, acredite, um GM com peças ativas do outro lado do tabuleiro era o que eu menos queria nesse momento. Embora, após 11. Dxd3 c5 as negras tenham uma posição cômoda e podem desenvolver seu cavalo via c6. Por exemplo, 12. f5 Cc6 com forte pressão central. Com 10. ... Bf5 procurei evitar de vez o lance f5 e, ao mesmo tempo que controlar a coluna "e", ter um ponto forte para minhas peças em e4. O lado negativo desse lance é que ele cede o par de bispos e cria uma debilidade na minha estrutura de peões.
11.Cxf5 exf5 12.c4 0–0 13.b3 Visto que a diagonal c1–h6 está fechada, o bispo vai a procura de outra diagonal que lhe seja mais conveniente. 13...Te8 A torre instintivamente procura a coluna e dá de cara com um bispo bem em sua frente perturbando a sua atividade. Um reflexo do meu erro no oitavo lance. 14.Bb2 Estranhei a casa indefesa que fica em "e3" após o deslocamento do bispo. A coluna "e" parece que vai servir para meus interesses mesmo, e se a debilidade da casa e3 e o bom posto de e4 também estiverem do meu lado, então estarei definitivamente com uma boa posição. Mas vai me convencer disso em cima do tabuleiro! Sempre tive a impressão de que o GM Rodrigues estava seguindo um caminho preestabelecido e que via sempre um lance a minha frente.
14...Ca6 O cavalo se desenvolve por a6-c7 para evitar um futuro d5. 15.Cg3 g6 16.Df3 Já que f5 não foi possível, agora as brancas convergem sua atenção para d5. 16...Cb4 Fiz esse lance com o intuito de descoordenar un poquito as peças de meu forte adversário. Além disso, depois de 17. Bb1 as brancas terão que gastar mais dois tempos com a3 para expulsar meu cavalo e com a retirado do bispo da primeira fileira para novamente conectar as torres. Somando eu ganho um tempo. 17.Bb1 Bf8 Meu bispo sai da incomoda casa e7 para dar passagem à atividade da torre e procura uma diagonal em que será mais útil.
19...Bg7 20.dxc6 Dxc6 21.Dxc6 bxc6 22.Bc2 Depois dessa variante forçada, chegamos à uma posição crítica. Um simples erro de avaliação dos componentes estratégicos envolvidos na luta a partir daqui pode levar ao fracasso. E acredito que tenha sido isso o que me sucedeu. Avaliei erroneamente os elementos da luta e acabei por ser derrotado.
22...h5 Um lance fraco, mas que ainda mantém as pretas com vantagem. Teria sido melhor Cg4. O lance do texto tem a idéia de cutucar o cavalo que vigia as importantes casas e4 e e2 e ameaçar a entrada na sétima de minha torre. 23.Tfe1 Um lance simples e bom! A medida que se trocam as peças pesadas, aqueles aspectos do final anteriormente abordados passam a aumentar de valor.
24.Tad1 Txe1+ Trocando as peças pesadas eu dou uma ajuda para os planos do meu adversário. Era melhor 24. ... Cc7 que depois de 25. b4 Ce6 as negras não teriam nada a temer devido a boa coordenação de suas peças. 25.Txe1 Te8? E esse é outro erro grave. Trocando a última torre restante, todas as vantagens no final que as brancas possuem, embora não esteja ainda tão fácil de converter, acabam por se tornar decisivas. Ainda era preferível 25. ... Cc7. 26.Txe8+ Cxe8 27.Bxg7 Rxg7 28.Ce2 Cd6 29.Rf2 Cc7 30.Bd3 a5 31.Cc3 Veja como d5 e b5 podem ser facilmente exploradas pelas brancas.